sexta-feira, setembro 14, 2007

Diversas formas de Ver a Cultura Popular!




O Festival Palco Giratório do SESC segue a todo vapor! Pelo teatro do SESC Prainha continuam passando as mais distintas produções teatrais do país e quem está perdendo a chance de acompanhar estes espetáculos, está perdendo a chance de entender um pouco mais sobre a produção das artes cênicas contemporâneas.

Durante esta semana tivemos a oportunidade de ver duas abordagens distintas da cultura popular que resultaram em dois espetáculos belíssimos, por motivos totalmente diferentes.

Do Rio Grande do Sul veio Sacy Pererê - A Lenda da Meia Noite, com a Cia. Teatro Lumbra de Animação, de Porto Alegre. Do Ceará veio Histórias de Teatro e Circo, com a Carroça de Mamulengos, de Juazeiro do Norte. Ambos os grupos trouxeram um outro espetáculo que, infelizmente, não pude assistir.

O espetáculo da Cia. Teatro Lumbra é inspirado no primeiro livro de Monteiro Lobato, contando uma história de Sacy assombrando um viajante. Para poder seguir viagem e reaver seus pertences, que o negrinho havia levado, este tem que demonstrar coragem e caçar a criatura. Com concepção e direção de Alexandre Fávero, que também atua junto a Flávio Silveira, o espetáculo exige coragem também das crianças, pois investe no clima de assombração e transforma o cenário em uma tela de sombras cinematográfica. As músicas e a beleza das imagens encantam o público de todas as idades com a releitura dessa história tão popular que ganha requintes estéticos.

Não há uma área ou elemento do espetáculo que não tenha sido pensada e, provavelmente, repensada. Nada é gratuito, tudo seu refinamento e acabamento impecável. Merece menção a direção de arte, assinada pelo próprio diretor (nada mais adequado do que ir buscar este termo nas fichas técnicas do cinema) e a cenografia, extremamente criativa.



A Carroça de Mamulengos nos traz a antítese perfeita do espetáculo anterior. Não estou colocando isto aqui como um critério de qualidade. Sua riqueza não está no acabamento da cenografia, nem na qualidade dramatúrgica (praticamente inexistente). Mas, é impossível não se render a esta família que carrega nas veias a arte pura, quase naif. Se o Sacy utiliza-se da cultura popular para criar um espetáculo, a família Gomide "é" a cultura popular.

O espetáculo é uma sequência de "brincadeiras" que nos apresentam vários personagens dos folguedos populares. Com muita música ao vivo e intervenções públicas vai conquistando os passantes do largo da alfândega. A burrinha, a cabrinha, o dragão, além da impagável "Miota" nos levam para um tempo que não é este que estamos vivendo. Assisti-los é como voltar para algum lugar perdido de nossa infância. Quem quiser encontrar no espetáculo algo além disso, está no local errado.

De todas as formas, seja por que caminhos for, a cultura popular ainda conseguiu render dois bons espetáculos. Muito diferente de outras produções que só utilizam a chita porque é uma matéria-prima barata e fácil de usar. Estas experiências nos mostram o contrário: Ou você é um artista popular ou você precisa criar com muito requinte para poder incorporá-la. Se não puder estar em um destes dois lados, nem entre em campo!

segunda-feira, setembro 10, 2007

Rio X São Paulo



Há muito existe um mercado teatral apoiado no pólo Rio X SP. Se, por um lado, este pólo parece, pelo menos olhando daqui de Santa Catarina, um bloco uniforme onde a produção teatral ganha cara e força de mercado cultural, basta colocá-los lado a lado em um festival que as diferenças gritantes começam a evidenciar-se e chamam a atenção até dos mais desavisados.

Não se trata de reafirmar a defasada idéia de que São Paulo é o berço do teatro dito de pesquisa e que o Rio de Janeiro é a casa das produções comerciais e superficiais. Tais afirmativas jogadas ao acaso são sempre limitadoras e preconceituosas em relação ao trabalho desenvolvido nestes grandes centros. Há muito podemos observar produções realizadas nestas cidades que contradizem essas afirmações. Agora, o que parece ser uma herança vinda destas tradições teatrais é uma certa diferença nos tratamentos visuais dados aos espetáculos. Um bom exemplo disto são os dos últimos espetáculos que assisti no Festival Palco Giratório nesta semana que passou.

De São Paulo veio Gota D'Água - Breviário com a Cia. Breviário, dirigidos por Heron Coelho e Georgette Fadel. O espetáculo, uma adaptação da Gota D'Água de Chico Buarque e Paulo Pontes ( que por sua vez é uma adaptação do mito grego Medéia para a realidade carioca) conta a história de Joana, mulher abandona pelo marido Jasão, sambista que acaba de gravar seu grande sucesso e que a abandona para casar com a filha de um empresário. Assim como no mito grego, o amor desmedido de Joana se converte em um ódio enlouquecido que acaba na morte dos filhos do casal pela mãe, seguida de suicídio (na versão brasileira).

Construído dentro de uma perspectiva épica, em palco arena, a direção praticamente abre mão de qualquer artifício imagético para se fixar na força das palavras e ações contidas no texto e nas músicas contidas no espetáculo, criando uma cena crua e dura de suportar nas 2 horas e meia de espetáculo. O texto, que se mantém brilhante, apesar de um pouco datado, e a interpretação de Georgette Fadel fazem valer a ida ao teatro. Fadel oferece uma variada gama de nuances à sua Joana e canta com propriedade. O restante do elenco (Cristiano Tomiossi, Alexandre Krug, Luis Mármora, Daniela Duarte, Flávia Melman, Luciana Paes de Barros, Alessandro Penezzi e Miró Parma) esforça-se para manter a cena viva, nem sempre atingindo este objetivo.




Do Rio de Janeiro vem Viagem ao Centro da Terra, com a Cia. de Teatro Artesanal, em um espetáculo voltado ao público infanto-juvenil, com direção artística de Gustavo Bicalho e Henrique Gonçalves. O espetáculo, adaptado do clássico romance de Júlio Verne, é de uma incrível concepção imagética, rico em detalhes e com uma grande variedade de técnicas narrativas, partindo da atuação e passando pela narração, cinema e teatro de bonecos.

O elenco (Cid Borges, Edeilton Medeiros, Kátia Kamello e Nilton Marques) tem plena noção do jogo em que se envolve, realizando transições de tempo e espaço para contar a história que parece impossível de ser realizada no teatro. Merece menção também os belíssimos figurinos e adereços assinados por Fernanda Sabino e Henrique Gonçalves e a iluminação de Alexandre Nazareth.

A maior dificuldade do grupo parece ser realmente dar conta de um pesado volume de texto, necessitando de inventar jogos e ações que não se relacionam diretamente com o que está sendo contado. Parece oferecer aos espectadores "pequenos alívios cômicos" para a história maçante, o que não é de todo verdade. O clima de aventura extraordinária parece ser a grande chave do espetáculo - caberia apostar mais nesse sentido.

De toda essa relação entre Rio e São Paulo, uma coisa é certa: Por mais que se tenha uma cena crua (como em Gota d'Água) ou exuberante (como em Viagem ao Centro da Terra) é indispensável a presença de atores com preparação e competência para mantê-las. Georgette Fadel e o elenco da Cia. de Teatro Artesanal nos mostram essa verdade.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Grandes Personagens, Espetáculos à altura!




O Festival Palco Giratório, realizado pelo SESC, segue sua programação, trazendo sempre diversidade para a cena de Florianópolis. Os espetáculos assistidos mais recentemente trazem aos palcos personagens marcantes, sejam eles reais (Mario Lago) ou ficcionais (Capitú e Bentinho).


No dia 04 foi a vez de Capitú - Memória Editada, adaptação do romance Dom Casmurro de Machado de Assis pelo Grupo Delírio de Teatro, de Curitiba, PR.


Edson Bueno (autor e diretor) cria com seus atores uma linha paralela (metalinguística) ao romance original, sem perder nada de seu conteúdo e tornando-o atraente como linguagem teatral. Não é a toa que o espetáculo já recebeu os prêmios Gralha Azul de melhor espetáculo, direção e texto. O elenco (Janja, Regina Bastos, Marcelo Rodrigues e Tiago Luz) parece compreender e compactuar com as idéias do diretor, fazendo com que o espetáculo se torne compacto e adquirindo uma unidade impecável.


A produção do espetáculo também está criada corretamente, sem grandes arroubos de genialidade, mas condizente com as necessidades do trabalho. Merece uma menção especial a iluminação criada por Beto Bruel. No todo, um espetáculo que se sustenta do início ao fim, realizado com inteireza e competência.


No dia 05 foi a vez de Ai, Que Saudades do Lago!, novamente com o Núcleo Informal de Teatro, do Rio de Janeiro, RJ. O espetáculo repete a fórmula do outro trabalho da Cia (vide comentário anterior), inclusive com o mesmo elenco, direção e autor. Devo confessar que fiquei admirada com a versatilidade da atriz Claudia Ventura, que vai do cômico ao dramático em um piscar de olhos, qualidade esta extremamente necessária neste tipo de espetáculo narrativo.


Uma pequena modificação no formato do espetáculo é a incorporação à cena de elementos multimídias. Tanto o documentário exibido ao início do espetáculo quanto às imagens projetadas durante o mesmo nos auxiliam a compreender melhor as situações. Não é um elemento indispensável, mas também não prejudica o bom andamento da obra.


O festival segue até o dia 29. Ainda há muita coisa para se ver no SESC Prainha.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Um Giro pela Diversidade Teatral!



Começou, neste sábado, na unidade do SESC Prainha o Festival Palco Giratório Brasil / Florianópolis. Uma mostra de artes cênicas que traz à cidade os espetáculos que participam do Circuito Nacional de Espetáculos realizado pelo Serviço Social do Comércio.

Louvar esta realização nunca é perda de tempo. O SESC e essa ação, hoje em dia, são as maiores programações envolvendo a arte teatral. Além de realizar centenas de apresentações em todo o Brasil, o projeto também prevê oficinas, festivais, cursos, debates e toda uma sequência de festivais e encontros que mantém vários grupos atuando. Ou seja, é opção de lazer e entretenimento para milhares de pessoas e opção de trabalho para muita gente.


Em Florianópolis a programação foi aberta, no dia primeiro, pelo Grupo Depósito de Teatro, com o espetáculo Aquelas Duas. Fundado em 1988, em Porto Alegre, RS, o grupo foca seu trabalho no teatro popular, buscando o resgate da dramaturgia brasileira, e na busca de um espaço onde se possam criar relações mais próximas entre espectadores e atores.

O espetáculo (que não tem assinatura de direção na ficha técnica) foi criado a partir de improvisações criadas pelas atrizes Liane Venturella e Sandra Possani. O material resultante do trabalho inicial recebeu tratamento dramatúrgico de Nelson Diniz (que também assina a orientação para a atuação). Nele, conta-se a história de duas prostitutas que dividem uma casa e suas ações cotidianas e repetitivas. O texto parece beber, em alguns momentos, em trabalhos do teatro dito absurdo, principalmente no jogo da "dupla" que não se suporta mais e não consegue partir. Algumas cenas levam as personagens a indagações metafísicas, outras passam pelos mais banais dos momentos buscando encontrar raízes mais profundas para tais ações.

A produção do espetáculo é bem realizada, com figurino e maquiagem de Heinz Limaverde, um belíssimo cenário de Nelson Diniz e Serginho Etchichury e uma luz correta de Cláudia de Bem. A atuação é também correta, talvez um pouco prejudicada pela falta de consistência do texto. Um espetáculo que resulta em momentos instigantes, mas que peca pela falta de unidade.


Nos dias dois e três, a programação seguiu, trazendo do Rio de Janeiro, RJ o espetáculo Antônio Maria - A Noite é Uma Criança do Núcleo Informal de Teatro. O musical, dirigido por Joana Lebreiro, tem no elenco os atores Cláudia Ventura, Alexandre Dantas e Marcos França (que também assina o texto) e os músicos Fabio Nin, Daniel Máximo e Geórgia Câmara (fazendo um belo acompanhamento, diga-se de passagem).

Para contar (literalmente) a história do compositor pernambucano, a direção opta por ambientar o palco como um bar, reduto da boêmia carioca, onde Antônio Maria passa a maior parte de suas noites na companhia de outros intelectuais da época. Bares estes onde o mesmo irá falecer em 1964, vítima de ataque cardíaco.

Se em Aquelas Duas o público era convidado a participar de uma interpretação estilizada, neste Antônio Maria o que impera é o realismo (quase televisivo). O espetáculo funciona muito bem, agradando ao público pela qualidade vocal e trazendo uma interpretação impecável de Cláudia Ventura. Só a possibilidade de vê-la cantar e interpretar já vale o valor do ingresso.

O festival se estende até o dia 29 deste mês. Se você ainda não tem, corra até o SESC e pegue a sua programação! A julgar pelas duas primeiras atrações, algumas das melhores produções do país estarão em Florianópolis em setembro. Aproveite!

sexta-feira, agosto 31, 2007

Os Valentes de Esparta!



Conta a história que quando as forças do Império Persa transpuseram o Helesponto para invadir e escravizar a Grécia, 300 valentes guerreiros de Esparta foram ao Desfiladeiro das Termópilas para tentar conter sua avassaladora superioridade numérica. Esses homens e a força de seus ideais resistiram bravamente. Suas armas foram destroçadas e eles continuaram lutando, até serem dominados e massacrados.

Esta é a história (recentemente mostrada no cinema, no filme "300") que o Grupo de Theatro Melpomene, da Associação Cultural Nova Acrópole conta no espetáculo Esparta, em cartaz neste final de semana no Teatro da Ubro. A história desses valentes guerreiros e de suas mulheres fortes que ficaram para trás, aguardando seus homens que nunca retornaram.

Os integrantes do grupo (chamados de filósofos-atores no programa do espetáculo) são artistas amadores (no melhor sentido da palavra) trabalhando em regime de voluntariado. O elenco numeroso (Valdirene da Costa, Goldenberg Lima da Silva, Marta Lobo, Fernanda Trindade Soares, Rodrigo Hauers, Claudio Goulart, Gilberto Sulzbach, Gilnei Quadros, Amanda Marchesini, Taiara Barbosa da Silva, Fabiana Cristina Turelli, Roger Hansen, Rodrigo e Miguel Philippi, Mariana Soziopoulos Steiner, Cláudio Drumont, Ana Paula Hasckel e Megaron Molossi) mostra-se empenhado em cumprir o que lhes foi passado por sua diretora artística Waléria Pessoa em 12 meses de aprendizado e ensaios.

O elenco feminino se sai melhor na batalha. Talvez pela sensibilidade mais aguçada, algumas mulheres alcançam os momentos mais interessantes do espetáculo, onde numa interpretação realista (e não naturalista, como equivocadamente se classificam no programa) em dois momentos conseguem tocar a platéia: a cena da entrega do bebê e a crise nervosa de Paraléia. O elenco masculino peca pelo excessivo tom gritado na fala, sem conseguir dar vida ao texto tão complexo.

Na tentativa de obter uma atmosfera trágica (bem realçada pela concepção musical de Samuel Olivo Scaini), a direção peca por impor um tom formal a todo o espetáculo. Em alguns momentos nos falta uma maior variação de ritmos nas ações e nos acontecimentos. Embora a música indique grandes mudanças, o corpo dos atores e o ritmo do espetáculo não seguem esta mesma informação. A limpeza cênica obtida pela diretora com os atores com pouca experiência é um das qualidades do trabalho, resta agora tentar fazer com que as movimentações se tornem mais orgânicas, emprestando-lhes o vigor e as tensões necessárias.

Outro ponto a considerar é o tratamento estético dado ao espetáculo. Embora se note o cuidado com a confecção de figurinos e adereços, estes pecam por tentar ser cópias fiéis dos originais. O caso é que as texturas dos tecidos e objetos ficam muito longe do esperado. Talvez a direção de arte pudesse ser um pouco mais criativa e tentar criar uma linguagem própria para a cena que é possível neste momento. Um exemplo claro são os bancos de plástico, extremamente distante de qualquer coisa que possamos lembrar como grego.

O resultado é uma batalha que está sendo travada! Um grupo iniciante que tem muita coragem e se expõe sem restrições. Mas que, neste momento, ainda perde a guerra contra as dificuldades encontradas. Certamente outras batalhas virão e encontraremos os seguidores da Musa da Tragédia mais fortes e melhores guerreiros. Evoé!

quinta-feira, agosto 02, 2007

Pura Falta de Sentido!


Existe um período da vida da gente em que gostamos de chocar! Muitos artistas utilizaram-se desta estratégia para chamar a atenção para alguma causa, para levantar alguma discussão pertinente ou ainda para conseguir seus quinze minutos de fama. A possibilidade de surpreender a platéia com uma ação inesperada, com uma ação que a retire de sua passividade e a coloque diante de paradoxos ou situações limite é uma poderosa arma na comunicação teatral.

Una-se a isto uma temática arriscada e pouco explorada no cenário cultural catarinense, a homossexualidade, e o que temos? Uma receita explosiva que pode resultar numa realização com forte apelo, tanto artístico quanto comercial.

Interessada nessa mistura, fui ao Teatro Álvaro de Carvalho nesta quarta-feira para assistir ao espetáculo Juan e Marco com Marcelo Lalau e Nando Schweitzer (que também assina texto, direção e música original).

Ao chegar ao teatro me deparei com o cartaz (não havia visto antes) que trazia as seguintes frases: "segundo o ministério Público: Imprópria para Menores" ; " Aviso: quem ri de Zorra Total, A Diarista, Sob Nova Direção e similares não irá entender as piadas" e "o espetáculo mais polêmico de sua vida!", entre outras. Confesso que tive vontade de recuar, mas compreendi que as frases eram humoradas e tentavam, desesperadamente, atrair público ao teatro. Ou seja, me identifiquei com esta necessidade, afinal todo artista quer que seu trabalho seja visto.

Felizmente o teatro estava praticamente vazio! Digo felizmente porque o espetáculo é uma sucessão incomensurável de equívocos, preconceitos e falta de respeito com o público. Para início de conversa é de um amadorismo (no sentido pejorativo) tremendo. Os atores obviamente não têm suas falas decoradas. Andam pelo cenário (?) sem parar, sem nenhum tipo de intenção ou desenho de cena. Não sabem posicionar-se na luz, ficando quase o tempo todo com metade do corpo iluminado e o rosto no escuro. Tem péssimo trabalho vocal fazendo a platéia perder muito do texto que é mal falado. Fingem, de maneira primária, emoções que não convencem a ninguém na platéia, causando, na maioria das vezes, risadas quando deveriam emocionar e um silêncio constrangedor quando deveria haver risadas.

Fiquei me perguntando onde estava a razão da tão esperada polêmica. Será que esperavam criar polêmica por causa da nudez dos atores? Não seria a primeira vez que isso se faz no teatro, nem mesmo aqui em Florianópolis. O beijo entre os dois homens? Talvez se fosse levado a sério e não da maneira histérica como aconteceu poderia provocar alguma reação na platéia. Seria polêmico discutir a relação homossexual de maneira banal e com uma falta de lógica absurda?

Talvez seja polêmico saber que o diretor da peça esteja oferecendo cursos de interpretação e canto na cidade. Talvez seja polêmico que não exista nenhum tipo de rigor no momento de se ensaiar um espetáculo. Talvez seja polêmica a pura falta de sentido encontrada neste espetáculo. Mas, acho que polêmica não seria a palavra adequada, mais correto seria dizer constrangedora!

sábado, julho 21, 2007

Existe diálogo no Púpilo Quer Ser Tutor?



Em cartaz no Teatro da Ubro, de quinta a domingo, até o dia 29 deste mês, o Teatro Sim...Por Que Não?!!! apresenta o espetáculo O Pupilo Quer Ser Tutor, de Peter Handke, com direção de Francisco Medeiros.


O texto, do autor contemporâneo austríaco, muito conhecido por seus escritos verborrágicos e também por sua colaboração no cinema com Wim Wenders (é dele o argumento que deu origem a Asas do Desejo), não se utiliza de palavras/falas (assim como fez em A Hora em que Não Sabíamos Nada Uns dos Outros, montada no Brasil pela Cia. de Teatro Elevador Panorâmico, direção de Marcelo Lazzarotto) para narrar, se é que se pode dizer assim, a disputa de poder entre duas forças antagônicas claras: o tutor (Nazareno Pereira) e o pupilo (Leon de Paula). Interessado em diálogos mais contemporâneos com os espectadores, mais afeito a provocações do que à soluções simples, Peter Handke , nascido em 1942 na Áustria, além de teatro já escreveu diversos livros e participou ativamente das discussões sobre questões políticas, tendo inclusive sido retirado um texto seu do repertório 2007 da Comédie Française, por causa de sua participação no funeral de Slobodan Milosevic, presidente da Sérvia. Polêmicas a parte, seu trabalho como dramaturgo é inquestionável, visto a estrutura que nos é apresentada nesta montagem em Florianópolis. A partir de jogos simples, constrói um mundo de alegorias sobre o poder e suas estratégias de repressão.


O diretor Francisco Medeiros, o assistente de direção José Ronaldo Faleiro, o cenógrafo e figurinista Fernando Marés e o próprio grupo têm trajetórias repletas de êxitos. Todos são premiados nacional e até internacionalmente por seu trabalho. O grupo e Faleiro são praticamente ícones do teatro em Santa Catarina. O grupo, inclusive, deixa claro o porquê dessa presença no cenário catarinense aventurando-se em um trabalho incomum, se compararmos este espetáculo às suas últimas realizações (...E o Céu uniu Dois Corações e A Farsa do Advogado Pathelin), com um caráter muito mais popular. Só pelo risco assumido, já merece os parabéns! Todas as áreas da produção são impecáveis. Soma-se as já citadas acima, a iluminação de Domingos Quintiliano e a trilha sonora de Aline Meyer. Mas, o destaque, sem dúvida é a impecável cenografia.


Com tantos predicados, é de se esperar que o espetáculo seja uma magnífica realização. Em minha opinião, ainda não é. Por mais que o espetáculo seja de um acabamento refinado, falta um sopro de vida no cenário. A sensação que tive é que o espetáculo não encontra eco na platéia. Os jogos de poder, por mais que estejam insinuados, não se realizam plenamente na cena, chegando em alguns momentos a perder um pouco de sentido. Várias possibilidades podem ser levantadas para esta falta de comunicação: uma direção esquemática demais, que se apóia sobre as ações contidas no texto mas que não as torna críveis no trabalho dos atores. Por mais formalista que se possa pretender a concepção do espetáculo, deve existir uma lógica que faça com que o que estamos vendo em cena adquira sentido e dialogue com a platéia. Ou ainda, o problema pode estar na figura do "tutor" que não parece exercer o poder necessário sobre o "pupilo", fragilizando a relação que é necessária estabelecer. Leon de Paula, neste sentido realiza um trabalho mais preciso, com alguns momentos preciosos.


No todo, um espetáculo profissional, limpo e bem realizado, mas "a conversa (...) entre a cena e o público"? Acontece? Eu permaneci calada!

segunda-feira, julho 02, 2007

Pobres Crianças de Oz!



A publicidade utilizada na promoção de um espetáculo (seja ele filme, teatro, dança ou circo, entre outros) pode definir seu sucesso ou seu fracasso. Mas, nossa tarefa como artistas, público e, principalmente, pais é tentar ver além do que dos oferecem e tentar encontrar opções que contribuam para a formação das nossas crianças, muito além do puro entretenimento. Não estou defendendo, de maneira nenhuma, o teatro pedagógico ou didático. Estou tentando entender o espetáculo O Mágico de Oz que assisti, com minha filha, este final de semana no Teatro do CIC.

Quando intitulamos um espetáculo de "remontagem brasileira o musical da Broadway", damos uma idéia muito clara do que pretendemos mostrar aos espectadores. Quando as principais armas da divulgação são os "efeitos visuais deslumbrantes" e a quantidade dos atores e dos equipamentos envolvidos, nos comprometemos com estas palavras de oferecer um ESPETÁCULO para o público. Não foi isso que aconteceu! Eu nunca fui a Broadway para assistir à nenhum dos espetáculos montados lá, mas pude ver algumas montagens da CIE - Brasil de musicais consagrados que fizeram temporada no Brasil. A qualidade da produção vista neste espetáculo não chega perto das produções de Chicago e O Fantasma da Ópera, como exemplo de outras transposições.

Mas, o que mais me amedronta nesta produção vista em Florianópolis, é a sucessão de equívocos relacionados ao fazer teatral para crianças. As falas infantilizadas, o visual colorido e brilhante (em excesso, na verdade), a falta de preparação do elenco, as posturas ilustrativas e super atuadas enchem o espetáculo de tédio. Até o momento "onde está?", "não estou vendo" que incita as crianças a gritarem para os atores estava presente.

A história escrita nos muitos livros de L. Frank Baum que fala de uma menina que precisa perder tudo que tem em sua vida para aprender a dar valores às coisas simples está totalmente deturpada. A versão do texto utilizada nesta montagem, que parece ter se baseado no filme e não nos livros originais, parece existir somente para poder encaixar as músicas, estas sim, bem escritas e adaptadas por Cláudio Botelho. O espetáculo perde completamente a lógica e parece ser obrigatório conhecer o filme para poder entender o que se passa.

Tal produção só reforça a crença de alguns que vêm fazendo um trabalho bastante parecido com esse nos últimos anos, menor apenas em escala e grandiosidade inócua. Enquanto isso vários trabalhos com grandes qualidades artísticas, pedagógicas e que não menosprezam a inteligência das crianças não conseguem ser vistos por esta quantidade de crianças. Porque será que os produtores da cidade não se unem aos artistas competentes? Tenho certeza de que as pobres crianças de FlorianOzpolis adorariam!

segunda-feira, junho 25, 2007

Poucas Palavras, Muita beleza.



Alguns minutos antes do início do espetáculo, neste domingo no Teatro do CIC, Sassá Moretti, a idealizadora do Festival Internacional de Teatro de Animação - FITA, subiu ao palco para se despedir do público que acompanhou o evento: - Não precisamos falar mais nada, os bonecos já disseram tudo nesses cinco dias de Festival! Com certeza teremos o segundo FITA no ano que vem! - O público aplaudiu entusiasmado. Empolgação? Pode ser. Mas a verdade é que pouca gente acreditava que um festival de Teatro de Animação poderia atrair tanto público em Florianópolis. E o que é melhor, atraiu um público que saiu extremamente satisfeito com a qualidade dos espetáculos.

Neste domingo eu também saí bastante satisfeita da apresentação de Houdini's Suitcase. Espetáculo da Cia. Piclekd Image do Reino Unido, com direção de Emma Loyd e atuação de Dik Downey e Vicky Andrews. Uma estação de trem, muitas malas e a memória de um velho homem são os elementos que nos vão sendo apresentados, lentamente, muito cuidadosamente. Dentro dessas malas encontramos vários personagens que nos surpreendem por sua força em cena. Não é apenas uma imagem que nos sobra após o espetáculo. São fragmentos da memória de um homem, narrados com muita criatividade, humor e ritmo. Apoiado sobre uma sonoplastia poderosa e descritiva, o espetáculo ainda conta com uma iluminação precisa. Simples, mas rica na criação de climas distintos. Os bonecos são muito bem acabados, talvez os mais vistosos que tenhamos visto neste festival e a animação deles também não deixa nada a desejar em técnica e vida. Outro ponto alto é a corporalidade construída por Dik para sustentar a máscara que utiliza durante todo o espetáculo.



Não pude assistir à tantos espetáculos quanto eu gostaria neste festival. Assim, meus comentários serão tentando analisar o todo pelas parte que pude prestigiar. O que pude perceber foi um grande nível na qualidade dos espetáculos. Uma curadoria mais acertada do que foi visto no Isnard Azevedo. Aqui os espetáculos parecem estar com um grau maior de acabamento e técnica, não deixando margens para tantos questionamentos estruturais das obras.

Um único senão para ser pensado pela organização do festival é a utilização dos dois grandes palcos nesta edição. Se o palco do Teatro Ademir Rosa parece demasiado grande para vários espetáculos que se apresentam alí, esse tamanho parece ter se tornado insuportável para os trabalhos do FITA. Manologias simplesmente ignorou que estava num palco daquele tamanho e Houdini's Suitcase poderia ter sido muito melhor absorvido num palco como o TAC, por exemplo. O Centro de Artes e Eventos da UFSC não é, nem de longe, um local apto para apresentações teatrais. Se a Universidade tem o desejo de realizar apresentações teatrais naquele local poderia tentar realizar algumas adaptações na estrutura física para isso.

Vida longa ao Fita, que a segunda edição seja ainda melhor!

domingo, junho 24, 2007

Diversidades no Fita!




A programação do Festival Internacional de Teatro de Animação de Florianópolis continua recheada de surpresas e bons espetáculos. Infelizmente não pude acompanhar os espetáculos da sexta-feira, assim que resolvi fazer um pequeno intensivo no sábado para recuperar o tempo perdido. Encontrei-me com três espetáculos bastante diversos entre eles, mostrando a riqueza e as apropriações possíveis que cabem sob o rótulo de Teatro de Animação.


Meu dia começou com o divertido espetáculo dirigido pelo grupo Cirquinho do Revirado, de Criciúma, SC. Este mesmo grupo esteve participando do Festival Isnard Azevedo com um espetáculo de rua. Em O Sonho de Natanael nos encontramos com uma estrutura de contação de histórias que se utiliza dos bonecos para ilustrar e apresentar os personagens para os espectadores. Uma boa relação com a platéia é a grande virtude do espetáculo, que se apóia numa estética mais folclórica. Uma vertente que aparece com bastante frequência nos espetáculos de rua e para crianças e, talvez por isso, causando uma certa sensação de deja-vú.


Na parte da tarde assisti ao espetáculo Manologias do Grupo La Santa Rodilla, radicado no Perú mas com um elenco formado por um italiano, um argentino e uma peruana. Dirigido por Hugo Soares (do grupo Teatro de Hugo e Inês, bastante famoso entre os bonequeiros) é o primeiro espetáculo deste novo grupo. Formado por quadros que não se preocupam em formar uma unidade, tem como elemento agrupador a técnica de utilização de diversas partes do corpo para compor os personagens. Assim, temos elementos extremamente simples e que exigem bastante virtuose dos atores/animadores, onde se sobressai o trabalho cômico de Renato Curci. Mesmo com um diretor bastante conceituado, o espetáculo sofre de uma certa inconstância: algumas cenas são bastante bem resolvidas, metafísicas em alguns momentos, em outras ainda impõe um maior desafio aos atores para ajustes de timing e limpeza na manipulação.


Se, em Manologias, o trabalho estava mais centrado na criação das imagens com o corpo dos manipuladores, em Em Camino, espetáculo solo de Sérgio Mercúrio, de Banfield na Argentina, o caminho de busca parece estar na construção das diferentes atmosferas e personagens bastante marcantes. Já havia ouvido falar do trabalho deste bonequeiro, mas ainda não havia tido a chance de vê-lo em cena. A simbiose com o personagem principal (Bob) é perfeita. Seu personagem respira, pensa e reage quase que sozinho. Temos a impresão até mesmo de que o boneco muda de expressões faciais, fruto da virtuose de seu manipulador. Uma variada gama de sensações nós envolve durante a apresentação, indo do lirismo aos palavrões em 05 segundos. As memórias de sua viagem pelas Américas é um fio tênue que abriga sob um mesmo guarda-chuva histórias tão distintas entre si.


De qualquer maneira são três trabalhos que servem para discussão entre os limites na classificação Teatro de Animação. Se é que esses limites existem.

sexta-feira, junho 22, 2007

Da Técnica Apurada ao Salto Poético!!!!


Segue a programação do Fita - Festival Internacional de Teatro de Animação e dentro dela pude acompanhar mais dois espetáculos. Uma das características mais marcantes que venho percebendo no trabalho dos bonequeiros que vieram à Florianópolis é a qualidade técnica na criação dos espetáculos. Falando dessa maneira, deveria ser algo óbvio. Para a criação de um espetáculo é necessário conhecer a técnica do trabalho que se está disposto à fazer... mas nem sempre é assim. Comparando com os espetáculos do Isnard Azevedo, por exemplo, o nível dos trabalhos apresentados no Fita parece superar facilmente as expectativas.

Seria essa diferença apenas um reflexo de uma curadoria mais acertada na escolha dos espetáculos? Ou, seria um reflexo da própria linguagem do teatro de bonecos? Explico: Assim como o músico toca um instrumento para expressar sua arte, também o bonequeiro necessita aprender a usar seu instrumento (boneco, máscara, forma, títere, sombra, etc) para estabelecer uma comunicação eficaz através dele. Cria-se, apartir disso, uma consciência da necessidade de aprender uma técnica, renová-la, pesquisá-la para expressar-se através dela. No caso do teatro feito por atores, é mais comum essa falta de consciência. É mais comum encontrar a crença de que basta ser "carismático" ou "um lindo modelo" para poder atuar. Generalizações à parte, existem milhares de exemplos que confirmam esta regra, em ambas as técnicas. Vai daí que é muito comum encontrarmos bonecos que não atuam, somente "chacoalham" em cena, assim como encontrar grupos de teatro que realmente desenvolvem pesquisas centradas na força da atuação dos seus integrantes.

De qualquer forma, o grande desafio parece poder reunir técnica e construção de poética durante uma mesma realização. No caso dos espetáculos de Teatro de Animação é bastante comum termos muita técnica à serviço de pouca expressão. Não chega a ser o caso do espetáculo O Senhor dos Sonhos da Cia. Truks, de São Paulo, SP. O espetáculo, dirigido por Henrique Sitchin, conta a história de Lucas, um menino que tem dificuldades em situar-se entre o sonho e a realidade. É uma bela realização que diverte e encanta, principalmente as crianças. Ao mesmo tempo, não propõe nenhuma mudança significativa ao panorama das realizações de espetáculos para crianças ou mesmo de animação. O elenco conta com uma técnica afiada de manipulação que se utiliza de variadas técnicas para contar uma história.


Por outro lado, podemos apreciar também à O Princípio do Espanto, espetáculo do grupo Morpheus Teatro, também de São Paulo. Espetáculo solo de João Araújo com direção de Luiz Andrade, não se utiliza das palavras para contar sua história, com excessão de um poema de Rilke, utilização em off no início e no fim do espetáculo. Utilizando precisamente da técnica de manipulação-direta, o espetáculo ousa ao explorar um ritmo muito particular e um certo estranhamento presente em toda a duração da obra. Suas pausas, suas pequenas ações e pequenos truques (como a saída da vassoura da caixa, por exemplo) vão guiando os espectadores por um caminho desconhecido e intrigante. O espetáculo não oferece respostas fáceis, deixando um espaço bastante grande para ser completado pelo espectador.

Dessa maneira, chegamos a um salto poético, fartamente perseguido, mas raramente logrado no teatro contemporâneo. Não é puramente elocubração intelectual e conceitual, pois o espetáculo toca o público e emociona. Mas também não é teatro que se rende facilmente à agradar seu público para que ele saia feliz e saltitante do teatro. Uma obra de arte, como todo espetáculo deveria ser!

quinta-feira, junho 21, 2007

O Sonho e O Avarento!



Resultado do sonho e do esforço dos artistas, o FITA - Festival Internacional de Teatro de Animação abriu nesta quarta-feira para trazer 15 grupos de vários países, estados brasileiros e cidades de SC.

O espaço (Centro de Cultura e Eventos da UFSC) pode não ser o mais adequado, mas a emoção falou forte na primeira noite de espetáculos do Fita. No discurso da coordenadora geral e idealizadora Sassá Morretti e da coordenadora executiva Zélia Sabino, ficou claro que este acontecimento teatral era um sonho há muito acalentado pelos bonequeiros de nosso estado. Quebrar o vácuo que existia na capital, que não participava do circuito de festivais internacionais de animação realizados já há muitos anos em Canela e Curitiba, sem contar com outros estados do país. Após anos e anos de luta e sonho, finalmente foi concretizado o festival que abriu oficialmente nesta noite de quarta-feira, embora já tivessem acontecido outras apresentações desde as 12h30min. O público compareceu em peso, provando que, graças aos esforços dos muitos bonequeiros do estado, há lugar sim para a milenar arte dos títeres.

O espetáculo escolhido para realizar esta abertura foi O Avarento (El Avaro), trazida à cena pela Cia. Tábola Rassa da Espanha, que deu ao texto original de Molière uma versão pra lá de contemporânea. Ao invés da falta de dinheiro, temos a falta água, um tema bastante atual, diga-se de passagem. Ao invés de atores ou bonecos antropomorfos temos torneiras, canos e objetos - recipientes de todas as formas. Mas, as sensações, os sentimentos, os questionamentos presentes no original estão fortes e presentes, graças à qualidade dos atores/animadores Olivier Benoit e Miquel Gallardo.


Arpagão, o avarento do título, encarnado numa torneira enferrujada, consegue nos transmitir todo o seu mau-humor, trazendo uma carga de "anima" que o transforma numa daquelas figuras que nos lembraremos durante anos. A cena de amor, sintetizada num balé entre as vestes dos enamorados, com direito a um ventilador para criar um clima ainda mais sensual, diverte e encanta. O timing preciso, a utilização dos acontecimentos no ambiente do teatro (sempre tem alguém que "esquece" de desligar o celular) e o senso de humor bastante cáustico auxiliam ainda mais para manter a atenção dos espectadores.

A cena final, com Arpagão desistindo do casamento em troca de seus preciosos bens e, literalmente, jorrando água para todos os lados, transforman o palco numa festa molhada, sintetizando a felicidade que, creio eu, estão sentindo os bonequeiros de Florianópolis com a realização do festival.

Vida longa ao Fita! Que Florianópolis ganhe cada vez mais espaços de exibições e espetáculos durante o ano todo. O público e os artistas, com certeza, agradecem.

terça-feira, junho 19, 2007

Lá. Onde?


" Passaram-se mais de 30 anos desde que Sérgio Jockymann escreveu o texto da comédia Lá, um sucesso de público na montagem interpretada por Paulo Goulart nos anos de 1970."

Assim começa a divulgação do espetáculo publicada no Diário Catarinense sobre o espetáculo em cartaz na Casa do Teatro do Grupo Armação até o final de junho. , monólogo de Gerson Prax, dirigido por Wlady Soares, com texto de Sérgio Jockymann. Nele, encontramos o Dr. Raul, preso em uma situação embaraçosa: trancado num banheiro, com o trinco na mão e sem ninguém para ajudá-lo a sair dali. Esta situação, claro, é um pretexto para que possamos ir conhecendo um pouco mais da personalidade e dos conflitos da vida desta personagem.

O ator e o dramaturgo, embora morem em Florianópolis, ainda não são muito conhecidos por aqui, talvez por serem esta suas primeiras encenações na cidade. O mesmo não se pode dizer de Wlady Soares, que nos últimos tempos também realizou Feitiço Andaluz, com atuação de Margarida Baird e Foi Bom Pra Você?, com textos de Luiz Fernando Verissimo.

30 anos passaram-se desde a escrita do texto. 30 longos anos. Naquele tempo ainda não havia celulares, laptops, wireless. Naquele tempo ainda se morria de medo de ser "trancado" em algum lugar por "alguém" que não se podia nomear. Vários textos daquele período constrõem situações semelhantes à este espetáculo. Naquele tempo.

A sensação que tive do espetáculo é que estava assistindo à um trabalho que havia parado no tempo. Teatrão!!! Como se costuma falar pejorativamente. Eu, honestamente, não vejo problema nenhum em se fazer um teatro à moda antiga, de maneira eficaz. Mas, neste trabalho, o que não parece fazer sentido é o conjunto colocado em cena. O figurino é correto, mas pobre de significado. Naturalista, quando o cenário segue por outro caminho. A iluminação não contribui para criar nenhuma linguagem: afinal de contas, qual o tamanho desta "privada"? Ou isso não importa? Qual o tamanho da prisão imposta àquela pessoa que vemos em cena? Porque, em alguns momentos a luz é tão branca que chega a ofuscar os olhos e em outros ganha tons de vermelhos? Isso deveria significar algo?

O trabalho de Gerson Prax é dedicado. Em sua terceira apresentação. Acredito que ainda irá ganhar muito em timing e aprofundar algumas relações com o público que já se insinuam , mas não terminam de serem realizadas. O texto, mesmo que não se proponha a um tour-de-force, tem momentos engraçados e que surpreendem a platéia. Um bom divertimento. A direção é que, no todo, carece de maior trabalho para fazer com que o espetáculo não fique lá, no século passado!

segunda-feira, maio 28, 2007

A Vó Danada e os Netinhos Ignorantes (*)


(*) por Wander Cairo Levy



28-05-07 - Antes de mais nada, acessem o blog da Vovó Danada (clique aqui!!!) para entender completamente o que estou dizendo nesse artigo.


Escrito por um anônimo redator das antigas, tenho dois ou três suspeitos, o blog aborda o mundo sem glamour da propaganda paulista: os bastidores, os falsos mitos, as sacanagens, as brigas egoísticas, etc. São temas que dificilmente poderiam ser destacados nos veículos, colunas e sites que falam sobre propaganda, porque são assuntos que, de certa forma, vão contra o negócio. Afinal, não é do interesse do mercado saber que, por trás de uma premiação profissional, existe uma briga horrorosa pelo troféu. Ou que os brilhantes criativos são um bando de infantis egos desinflados por uma política de resultados que os obrigam a passar mais de doze horas na agência em busca de nada. Os temas abordados pela Vovó Danada são cruéis, mas não é sobre isso que quero falar.


A Vovó late, os netinhos mordem.


O mais impressionante do blog é o volume de comentários para cada post. Freqüento blogs do mundo inteiro e jamais vi uma avalanche assim. Na última semana, após uma postagem normalzinha sobre os rumores da possível ida de um criativo para uma das mais famosas agências brasileiras, o blog registrou mais de 200 comentários. E é aí que eu quero chegar. Se o volume impressiona, o conteúdo dos comentários é assustador. Primeiro, porque mostra o nível de ignorância dos jovens criativos do principal mercado do país. Linguagem chula, erros crassos de português, absoluta falta de capacidade de exposição de raciocínio e vocabulário limitado são dominantes da maioria das mensagens. Segundo, uma característica que tenho notado há algum tempo em palestras e debates: a quase totalidade dos comentários não tem absolutamente nenhuma ligação com o assunto tratado pelo bloguista. Parece que as pessoas querem ouvir a si mesmas e não necessariamente discutir um tema. O terceiro ponto, para mim o mais importante, é o nível de frustração desses jovens profissionais.


Netinhos órfãos de pai e mãe.


Ninguém em sã consciência pode questionar a importância de alguns profissionais, como o Nizan ou o Marcio Moreira, para a valorização da criação na propaganda brasileira. Os netinhos não só podem, como acreditam que esses caras são o lixo da profissão. O Márcio Moreira, para quem não sabe, foi o primeiro profissional de criação do Brasil a fazer uma vitoriosa carreira internacional. Isso quando os netinhos ainda eram projetos de vida e a vovó era uma mamãe que dirigia uma das principais equipes criativas que o mercado já teve (se ela realmente é quem eu suspeito que é). Pois bem, esses rapazes e moças que mal (ou mau?) iniciam seu histórico profissional se sentem no direito de descer o pau em todos os criativos que fizeram e fazem o melhor da propaganda brasileira. Por quê? Provavelmente, porque são arrogantes, monossílabos e totalmente frustrados pela incapacidade de gerar alguma coisa melhor do que os márcios e nizans produziram em suas longas carreiras. Certamente, esses garotos e garotas imaginam que, ao bater naqueles que deveriam ser seus ícones de inspiração, estão abreviando a sua longa jornada para a consagração. Ledo engano: só quem faz história pode fazer parte da história. O resto é coadjuvante


(*) Wander Cairo Levy é diretor de criação da Fórmula Comunicação

sábado, maio 12, 2007

Sobre o exercício da crítica e do criticado.



Muitas pessoas me perguntam qual o motivo de permanecer "anônima" enquanto estou mantendo um Blog e um Fotolog que faz comentários sobre os espetáculos que assisto na cidade de Florianópolis. Algumas vezes esta pergunta vem como um questionamento mesmo, noutras com um sentimento de desaprovação e já houveram casos que o interlocutor compreendia esta "estratégia".

Nesta semana que passou reafirmei a minha compreensão sobre a cidade e o meu intuito de continuar no anônimato. Das mais de 100 (cem) visitas recebidas em ambas as páginas, apenas 02 (duas) se detiveram a escrever algo que estava, de alguma maneira, relacionada com o comentário. Vários dos visitantes simplesmente passaram , leram e seguiram o seu caminho (o que, pelo menos, é uma opção clara). Houve uma quantidade imensa que não ficou satisfeita com o comentário e resolveu se "pronunciar". Ótimo, este é mesmo o objetivo desses espaços. Mas, ao invés de discordar, discutir e debater, resolveram xingar, ameaçar e exercer o livre direito de não contribuir com nada.

Houve muitas críticas quanto a qualidade da escrita, sem no entanto propor nenhum tipo de alternativa. Houve muitas críticas a qualidade do meu "português", sem no entanto estarem escritas em um "razoável" português. Houve muitíssimas críticas em relação ao meu anônimato, sem no entanto terem sido feitas por pessoas reais, mas sim por "curioso", "resposta ao curioso", "eu sei quem vc é", entre outros.

No cabeçalho do Blog (que se repete no fotolog com pequenas modificações) está descrito com bastante exatidão à que se propõe o mesmo: "Este blog foi criado como um espaço de reflexão sobre o fazer teatral. Para pensar sobre os espetáculos de artes cênicas vistos por esta que vos escreve, sem nenhuma metodologia de escolha ou análise... por sorte ou azar. Contém a descrição de minhas sensações em relação ao que tive acesso. São pequenas resenhas, que contém opiniões pessoais! Sem impor verdades! Está aberto à questionamentos e críticas. Será um prazer dividí-lo com vocês."

* Os grifos foram colocados nesta reprodução do texto para tentar deixar mais claro ainda minhas intenções quando da criação do mesmo.

Não há nenhum compromisso acadêmico de minha parte ao escrever estes comentários (por isso, não estou preocupada com estrutura pré-requisitos, citações, etc). Eu realmente não sabia que escrevia, segundo dizem, um português tão ruim. Eu tento escrever os comentários logo após assistir aos espetáculos e talvez por esta razão alguns comentários vêm com alguma certa "paixão". Eu, sinceramente, tento não ser tendenciosa ao escrevê-los. Embora acredite que é impossível não deixar meu gosto pessoal interferir na minha escala de valores sobre um ou outro espetáculo. Sempre tento levantar pontos positivos e pontos negativos de cada espetáculo. Respeito ao trabalho dos grupos tem sido a palavra chave do meu trabalho.

Por outro lado, com excessão de Jefferson Bittencourt, nenhum outro diretor de teatro ou participante de alguns espetáculo comentado se interessou em discutir o que estava escrito. Alguns se limitaram a agradecer o comentário, outros, nem isso. Porque?

Se podemos dizer que o "crítico" (o que não é o meu caso, pois não tenho formação para tal) é um artista frustado, que se mantém alimentado por causar a "desgraça" alheia, destilando sua incompetência sobre o pobre artista e causando polêmicas para inflar o próprio ego; também podemos dizer o artista é um egocêntrico incurável, que não admite discutir sua obra de arte perfeita e irretocável, que não admite críticas porque elas foram feitas no sentido de tolher sua expressividade e a manifestação mais íntima de sua genialidade.

Por favor: Vamos deixar os clichês de lado!

Assim como a minha escrita pode melhorar (e muito!), também podem os espetáculos produzidos em Florianópolis e Santa Catarina evoluírem em muitos sentidos. Podem e devem deixar de ser permissivos com seu processo e sua construção. Podem e devem ser revistos após sua estréia. Não porque "Eu" disse isso, mas porque é o caminho natural do encontro com o público. O espetáculo só é realmente testado quando encontra a resposta do público. Só encontra seu sentido quando é realizado perante seus espectadores à cada apresentação. E nem todos os espectadores vão gostar completamente do seu espetáculo! Assim como nem todas as pessoas gostam do que eu escrevo.

Num mundo tão marcado pela violência e pela falta de sentido, não seriam os artistas os que primeiro deveriam tentar encontrar uma resposta para o que está acontecendo? Não seriam os artistas os primeiros a tentar deixar de ser intransigentes e buscar o diálogo sobre todas as coisas? Qual o papel do artista, afinal? Ficar se debatendo por picuinhas e "anônimatos" eu tenho certeza que não é!

domingo, maio 06, 2007

O Rouxinol Infantil


Não é de hoje que os artistas de Teatro têm levantado vários questionamentos sobre a qualidade dos espetáculos voltado à um público específico: as crianças. Vários movimentos têm sido feito no sentido de discutir a produção realizada no país, desde a criação de festivais e mostras voltadas exclusivamente para as crianças (corrente da qual o Festival Isnard Azevedo deste ano destoou completamente!), até a não utilização do adjetivo "infantil" que acabou virando um termo que, as vezes, soa pejorativo. O dicionário Aurélio coloca o termo infantil, entre outras coisas, como sinônimo de ingênuo, simples e tolo. Não é a toa que os artistas têm preferido utilizar os termos "infância", "para crianças" e "juventude". Longe de querer parecer ser politicamente correta, acredito que a mudança desta nomenclatura busca querer traduzir uma mudança de comportamento em relação à produção voltada para os pequenos. Uma produção que, hoje em dia, não é mais vista somente como um passo para o aprendizado do ator amador, que estaria aprendendoa atuar no teatro infantil para depois fazer Teatro de verdade para os adultos.

Como essa ainda não é uma prática tão amplamente discutida, nem uma regra, não me preocupei quando encontrei o termo infantil na divulgação do espetáculo O Rouxinol do Imperador, em cartaz no Teatro da Ubro, as 16h, até o próximo final de semana com o grupo A Patota do Teatro.

O espetáculo é um reconto do original de Hans Christian Andersen com toques de meta-teatro, onde dois contadores (Gustavo Bierberbach e Mariana Coral) são auxiliados por um Mestre (Cacá Corrêa, também diretor do espetáculo) para levar adiante a história de um Imperador Chinês intrigado com a existência de um tesouro que ele não conhece em suas terras. Assim que ele se dá conta da beleza do Rouxinol encanta-se, mas logo troca o verdadeiro por um artificial recebido de presente do Imperador Japonês. Quando o brinquedo novo estraga-se, o Imperador dá valor ao Rouxinol verdadeiro.

A concepção do espetáculo está apoiada nesta influência chinesa. Toda a cenografia (assinada pelo grupo), a trilha sonora (Jack Moa) e o figurino (Zazá Corrêa) são coerentes com a idéia central da montagem. O espetáculo recebe um acabamento profissional em todas as áreas e linguagens pela qual se aventura, com excessão, talvez, das formas animadas que poderiam ganhar em expressividade e maior apuro na manipulação. O elenco masculino demonstra ter bastante energia e conhecimento sobre como se colocar em cena.

Eu poderia ficar falando bastante tempo sobre as qualidades e os pequenos detalhes a serem revistos no trabalho, mas, e infelizmente há um imenso "mas", sou obrigada a me ater à algo que talvez faça com que todo o trabalho anterior tenha sido uma grande perda de tempo: a visão sobre o infantil!

O espetáculo peca gravemente numa visão equivocada sobre a criança. Impõe uma maneira estereotipada de interpretar de maneira infantilizada e acaba caindo em vários clichês já bastantes conhecidos de quem costuma frequentar o teatro feito para crianças no Brasil. Ao mesmo tempo em que os textos ditos pelo Mestre indicam equívocos na contação dos discípulos, esses equívocos aparecem com força total na direção do espetáculo. Excesso de movimentação com pouco sentido, uma certa histeria na interpretação dos discípulos, excesso de informação verbal, falta de limpeza na cena são algumas das armadilhas nas quais facilmente se cai neste tipo de trabalho.

O espetáculo devia confiar mais na inteligência das crianças, assim como confia no momento em que realiza com elas a dobradura de papel. Mais ensaios na parte final do espetáculo também o deixariam mais ágil, não deixando com que nos dispersemos na parte mais interessante do trabalho.

Da forma como está este Rouxinol acaba nos parecendo muito infantil, no mal sentido.


* foto retirada do site www.hagah.com.br

segunda-feira, abril 16, 2007

OTIMISMO!

Um balanço pessoal do Festival Isnard Azevedo.

Após dois dias do término do Floripa Teatro, ainda estou me refazendo fisicamente e mentalmente da maratona que foram esses oito dias. Dos 33 espetáculos anunciados, 02 foram cancelados, 06 eu perdi e 25 eu assistí. Um média de 03 espetáculos por dia. Ufffa!

Se, numéricamente esta edição superou a edição de 2005, o mesmo se pode dizer da qualidade dos espetáculos. Saiu-se bastante menos enfadado dos espetáculos neste ano do que daquela edição. E o festival foi para as ruas, para as escolas, passou a interferir um pouco mais no cotidiano da cidade. É um festival ideal? Ainda não, e creio que nunca será. Afinal, sempre teremos coisas nas quais poderemos dar sugestões e buscar torná-las mais interessantes. E talvez esse seja um dos principais passos a ser dados pela organização: entender que um festival de teatro é um organismo vivo, que talvez tenha que ser re-formatado a cada ano, de acordo com as necessidades da cidade e com produção teatral do país. Desistir de uma vez desse formato competitivo retrógrado que, em muitos casos, afasta algumas companhias profissionais qualificadas.

Por exemplo: um das coisas que não consegui entender neste ano foi a não utilização do Teatro Álvaro de Carvalho. Alguns dos espetáculos da Mostra "Oficial" ficariam muito melhor se mostrados alí. Imagino que alguns grupo iriam preferir apresentar-se em duas sessões do que utilizar o palco do CIC. Talvez uma maior flexibilidade por parte da montagem das grades de apresentações poderia contribuir bastante para um formato mais abrangente de festival.

Outra coisa que não parece contribuir muito é o debate. Parece servir apenas, em alguns casos, como um muro de lamentações para justificar o que não funcionou durante a apresentação, e em outros como um espaço para jogar confeti sobre o elenco que se saiu bem. Pouca coisa foi realmente aproveitável nos debates. Talvez um espaço, num outro horário, numa sala menor, com vários grupos presentes possa trazer informações mais interessantes para quem está assistindo.

Um outro ponto é a ausência de uma mostra dedicada exclusivamente para o teatro para Crianças. A presença de espetáculos para esse público em outras mostras não justifica a ausência da mesma. O festival parece mandar um recado, equivocado, de que este tipo de teatro não é importante para ser discutido, quando a maioria dos grandes festivais do país está se abrindo cada vez mais para ter um espaço privilegiado para os pequenos.

Mas, voltando aos espetáculos, ainda que percebamos uma melhora de qualidade, se compararmos com a edição de 2005, ainda existe uma desigualdade muito grande nos trabalhos apresentados. Se tivemos trabalhos em que era perceptível a pesquisa ou uma proposta clara (A Sombrancelha é o Bigode do Olho - Uma conferência do Barão de Itararé; Sobre Anjos e Grilos; Crimes Delicados; Nem Mesmo a Chuva Tem as Mãos tão Pequenas; ...E o Céu Uniu Dois Corações; Calendário da Pedra), houveram também trabalhos que estavam muito aquém das expectativas ou ainda no espaço equivocado para sua apresentação (A Casa; O Hipnotizador de Jacarés; Casa Verde; Caio Transbordado). A presença maciça de espetáculos ligados ao humor, principalmente clownesco, também pareceu tirar um pouco do caráter de diversidade, visto que o festival nunca se apresentou como "temático".

É verdade que essas diferenças de nível não são uma exclusividade do Isnard Azevedo, mesmo festivais maiores como o de Curitiba e o Porto Alegre em Cena apresentam este mesmo problema, mas com uma diferença: estes festivais não são competitivos e se ocupam em realizar uma amostragem das tendências do teatro brasileiro. Talvez o Floripa Teatro tenha que para pra pensar e decidir à que realmente se propõe. Decidido isto, muitas perguntas e respostas chegarão. E muitas críticas perderão a validade.

O primeiro passo parece ter sido dado: Acordar o festival do imenso marasmo em que ele estava submetido. O que virá agora, só o tempo e a Fundação Franklin Cascaes, dirão. Vamos lá, OTIMISMO!!!


* Foto: Vicente Maia / WEBCLIX

domingo, abril 15, 2007

Acabou!

O Festival Isnard Azevedo chega ao fim. Foram 08 dias de muitos espetáculos e muito público nos espetáculos. O evento parece voltar a fazer parte do calendário da cidade, mobilizando artistas, estudantes e comunidade para a apreciação do fenômeno teatral. Muita coisa pode ser pensada e discutida a partir do formato do festival experimentado neste ano, mas eu vou deixar para um próximo texto um balanço do festival. Hoje, vou me limitar a falar sobre os últimos espetáculos que assisti e a comentar um pouco da premiação. Vamos lá:


Comecei o último dia assistindo ao espetáculo Casa Verde do grupo Milongas vindo da cidade do Rio de Janeiro, RJ. Um espetáculo difícil que parte do conto O Alienista de Machado de Assis para compor sua dramaturgia. Um trabalho que, segundo o próprio grupo, ainda não havia experimentado realizar uma apresentação no espaço da rua. E isso fica evidente, pois o formato escolhido, por demais verbológico, o torna cansativo e pouco criativo. Uma dura jornada para o público.




Ao meio-dia entra em cena o Palhaço Xuxu, criação de Luiz Carlos Vasconcelos, de João Pessoa, PB que apresenta o espetáculo Silêncio Total, Vem Chegando Um Palhaço! Mais um palhaço para participar do Isnard Azevedo? Só que este tem um diferencial: conhece a arte mais do que os outros que já passaram por aqui e cria uma imagem com carisma suficiente para manter a platéia cativa. Criado em 1978, o palhaço Xuxu executa as mesmas gags que estamos acostumados a ver, mas nos deixa perceber uma dimensão humana profunda. Sua obsessão pela beleza, pela arrumação no cabelo, sua faceirice além de nos divertir, nos toca profundamente.




Voltando ao CIC, logo após a cerimônia curtíssima de premiação, assisti ao espetáculo ...E o Céu Uniu Dois Corações! da grupo Teatro Sim... Por que não?!!! de Florianópolis.

O espetáculo é um autêntico melodrama, com direito à muitas lágrimas, risos e reviravoltas na trama. A diretora Neyde Veneziano, especialista em teatro popular faz uma direção correta, utilizando-se de todo o seu conhecimento sobre o estilo para encaminhar o elenco* a realizar adequadamente o espetáculo. Destaques vão para a Dona Santa e Juca, que roubam a cena com seu carisma. Eu, para ser sincera, acho o espetáculo um pouco longo. Acredito que seria possível criar soluções mais criativas para as trocas de cenários sem a necessidade de ser didático, no sentido de que "é assim que se procede no Circo Teatro", embora tenha ficado apaixonada pelo vendedor de amendoim. E esse didatismo também aparece na construção de alguns personagens, principalmente na dupla de vilões e na intrepretação do Pai de Nelly. No todo o espetáculo funciona. O público, principalmente no final, participa da catarse proposta pelo grupo na belíssima e kistch aparição do casal no céu. É impossível não deixar de brotar um sorriso cúmplice no desejo de, finalmente, encontrar a felicidade!

A premiação não me causou muitas surpresas! Na categoria adulto, foram reconhecidos os dois espetáculos que mais funcionaram com o público: Melhor Espetáculo, Atriz, Cenografia e Trilha Sonora para Débora Finochiaro e seu Sobre Anjos e Grilos e Melhor Direção, Ator e Juri Popular para Marcio Vito e seu Barão de Itararé. Na categoria de Rua, venceu a força da idéia de André Carreira e seu Quixote, que ainda levou Melhor Ator, Atriz e Direção. Perfeição – Quando a Tempestade Nasce das Luzes, de SP ficou com o prêmio de Juri Popular (este foi o único espetáculo que não consegui assistir nesta mostra).


*o site
www.floripateatro.com.br não disponibilizou os nomes do elenco deste espetáculo.
** fotos retiradas do site www.floripateatro.com.br .

sábado, abril 14, 2007

Vem chegando o Final...

Praticamente todas as mostras do Festival Isnard Azevedo terminaram nesta sexta-feira. Para o sábado ficou o último espetáculo da Mostra de Rua e os espetáculos convidados. Ainda tive tempo de assistir a 03 espetáculos e o projeto 3x1, ou seja, somei 06 trabalhos! Haja cabeça para pensar tanto sobre teatro.



Meu dia começou com o espetáculo solo da Sessão Pipoca Precisa-se de um Mané, da La Cascata Cia. Cômica de São Paulo, SP. E, se você vem acompanhando o que tenho escrito por aqui, já sabe como estou em relação aos clowns e palhaços neste festival. Pois este espetáculo segue a cartilha de todos os outros que se apresentaram por aqui: uma boa produção, uma palhaço razoavelmente bem preparado (o ator Marcio Douglas, que também dirige o espetáculo) e a repetição de algumas gags já bastante conhecidas pelo público.

Esta situação me lembra o que aconteceu com os espetáculos folclóricos há bem pouco tempo atrás: a saturação e repetição da forma foi tanta que algumas pessoas quando sabem do que se trata fazem questão de passar longe do teatro. E tudo isso feito com a desculpa de se "manter a tradição", quando na verdade o que acontecia era um empobrecimento de um trabalho rico, que deveria estar se relacionando com o mundo de hoje e recriando-se continuamente.

Mas, voltando ao espetáculo, este também sofre com uma certa simplificação na dramaturgia. Estamos acostumados com um fio de história para dar lugar às gags, mas os fios parecem estar ficando cada vez mais curtos. Como a história não é muito enriquecedora, acaba-se por alongar os tempos, deixando o espetáculo um pouco arrastado.


Encerrando a Mostra Paralela tivemos Nem Mesmo a Chuva Tem as Mãos Tão Pequenas, com o grupo de Florianópolis Persona Cia de Teatro.

O espetáculo, criado a partir do texto semi-auto-biográfico The Glass Menagerie, escrito em 1944 por Tenessee Williams, trata de uma família em profunda crise de relacionamento. O pai se foi, deixando mulher e um casal de filhos sós, causando um processo de desintegração pessoal.

Os textos de Williams são famosos pela maneira como transmitia uma vivida tensão sexual e violência reprimida, tratando seus personagens com ironia e compaixão. Dentre a longa lista de textos escritos por ele destaca-se também Um Bonde Chamado Desejo, que ganhou versão cinematográfica.

A montagem florianopolitana é fiel aos preceitos do original, principalmente no que diz respeito ao tratamento dado aos personagens. A direção (de Jefferson Bittencourt) acerta em escolher uma encenação não-naturalista para a obra (o que seria completamente desnecessário) mas apoia-se sobre uma interpretação realista dos personagens (ou, pelo menos algo muito próximo disto). A personagem da filha recebe um tratamento de muita compaixão (tanto do ator quanto do diretor) e a atriz Gláucia Grigolo mantém um trabalho sob medida e com carisma suficiente para dar suporte a ela. Higor Lima me pareceu mais confortável na temporada de estréia, dando lugar a um certo formalismo nessa ultima apresentação. E particularmente, eu discordo do tratamento dado aos personagens por Malcon Bauer e Melissa Pretto. Acho que a mãe peca ao não ser mais sutil, criando uma personagem muito caricata. E o irmão poderia deixar de ser uma figura meio retorcida, investindo mais no que acontece entre as ações e não no resultado delas na cena. No todo o espetáculo funciona.



Na Mostra Oficial fizemos uma viajem ao universo caipira com o espetáculo Flor do Beco com o grupo Teatro do Inconsciente, de Brasília, DF.

Com um trabalho extremamente poético, tanto na forma quanto no conteúdo, o grupo faz uma releitura da obra de Cora Coralina e Monteiro Lobato. A direção (de Marcelo Alves e Débora Aquino) acerta nas escolhas formais, criando um espetáculo de grande beleza visual, sem trejeitos folclorísticos e criando uma suspensão no ritmo urbano ao qual estamos acostumados.

A história fala de três gerações de uma família de mulheres, seu modo de viver e de se relacionar com o mundo. O elenco (Daniela Vasconcelos, Giselle Ziviank, Leila Raquel e Letícia Abadia) é extremamente afinado, criando momentos vocais belíssimos, mas alguns momentos revelam-se por demais formais, tirando um pouco a força da encenação. Acredito que o espetáculo se sairia muito melhor num espaço menor e mais adequado do que o imenso Teatro Ademir Rosa. Vale ressaltar o trabalho da iluminação (de Moisés Vasconcellos) e os figurinos, simples e criativos (de Tatiana Tiburcio e Andréia Alfaia).

E, minha noite teria acabado aí, como normalmente acontece, se eu não tivesse esticado até ao CEART /UDESC para assistir ao Projeto 3X1. São três espetáculos curtos criados por alunos de artes cênicas e unidos num programa de uma hora. Os trabalhos revelam-se ainda muito embrionários, mas é possível perceber que quando os alunos tem um texto mais consistente (no caso: Palavras, palavras, palavras de David Ives) tem mais chance de dar uma forma que já poderia começar a ser mostrada ao público.