segunda-feira, janeiro 29, 2007

Uma Farsa Correta.






Esteve em cartaz a montagem do espetáculo A Farsa do Advogado Pathelin pelo grupo Teatro sim... Por que não?!!!, no Teatro Álvaro de Carvalho. O espetáculo, que já realizou mais de 200 apresentações, recebendo várias premiações em festivais nacionais e internacionais, retorna em cartaz comemorando 10 anos desde sua estréia, uma verdadeira conquista em termos de teatro catarinense.

O grupo Teatro sim... Por que não?!!! já é muito experiente e conta em sua trajetória com muitos espetáculos de sucesso, tendo inclusive se apresentado em festivais fora do país. As Aventuras do Mestre Nasrudim, Livres e Iguais e E o Céu Uniu Dois Corações são algumas das montagens do grupo, que é igualmente reconhecido na cidade pela qualidade de suas produções.

O acabamento técnico do espetáculo é impecável. O projeto cenográfico (de William Pereira), a execução de cenários e adereços (de Marcos Carioni), os figurinos ( de Norma Ribeiro), a iluminação (do também diretor Julio Maurício) e a maquigem (sem assinatura no programa) são totalmente adequados à linguagem escolhida e realizados com competência e criatividade.

O trabalho dos atores (Berna Sant'Anna, Ismar Medeiros, Leon de Paula, Nazareno Pereira e Valdir Brasil) é correto. Todos estão atuando com um conhecimento específico sobre a linguagem (preparação de Neyde Veneziano), sabendo se utilizar de suas vantagens e limitações. Impostações corretas, bom trabalho vocal. O destaque neste caso vai para o talendo histriônico de Berna Sant'Anna que consegue encontrar momentos de grande hilariedade e trabalha com grande naturalidade, dentro de uma linguagem tão teatral. Outro que parece muito à vontade no papel é Leon de Paula, encontrando momentos de grande valor dentro do espetáculo.

Mas, seria então interessante perguntar: Com tantos acertos e preparo técnico, por que o espetáculo não empolga? Por que a platéia não embarca completamente no jogo proposto pelo grupo?

Bom, eu tenho pelo menos dois palpites.

O primeiro está na adaptação do texto (realizada por Perito Monteiro). Com uma fabula tão simples e direta (característica marcante das farsas) o texto, em alguns momentos, parece ficar dando voltas sobre sí! Ao invés de propor mais quiproquós, mais jogos físicos ou explorar as pequenezes dos caracteres, fica tentando explicar as motivações (totalmente óbvias) dos personagens. Ou seja, em bom e claro português: Chovendo no molhado!

O segundo está na direção (de Julio Maurício). O diretor (tão preciso na organização dos elementos plásticos) imprime um certo academicismo à direção do espetáculo. Parece estar mais preocupado em não errar do que conseguir construir uma obra de arte. Parece ter se deixado amarrar pelas regras (Manual de montagem de uma farsa!) ao invés de deixar-se perverter um pouco pelo apelo que sua matéria-prima tem. Ora, como diz o programa do espetáculo: "... o essencial era o jogo dos atores. O público aplaudia todos os golpes e se preocupava pouco com a moral: o importante era rir." Isso parece foi o que mais senti falta na apresentação: a participação macissa do público vibrando com a falta de moral, com a sordidez e a imoralidade dos personagens, e - com o intuito de toda farsa - libertando-se do politicamente correto.


Assim como na montagem de Sonho de uma Noite de Velório do Grupo Armação, como neste A Farsa do Advogado Pathelin, parece que sobra um pouco de responsabilidade aos grupos. Um pouco de incorreção, as vezes, não faz mal pra ninguém!