domingo, março 25, 2007

“Hagënbeck Ltda”





Esteve apresentando em Florianópolis, a Cia. Experimentus Teatrais de Itajaí, com o espetáculo Hagënbeck Ltda, pelo projeto Em Cena Catarina, promovido pelo SESC-SC.

A Cia. com sede na cidade de Itajaí desenvolve um trabalho de pesquisa desde 1999, tendo dois de seus integrantes como estudantes do Curso de Artes Cênicas da UDESC - SC. E foi como um trabalho realizado para duas disciplinas da Universidade que nasceu este espetáculo.

Criado a partir do conto Informação para uma Academia de Franz Kafka, a peça é uma narrativa da história de Pedro Vermelho, um macaco que é capturado em seu habitat natural e é trazido para a civilização pela companhia que dá nome ao espetáculo. Diferentemente do texto original, em que o símio se torna um ator do teatro de variedades para livrar-se da jaula, o que justifica a apresentação a que estaríamos assistindo, no espetáculo o contexto é deslocado para um experimento que está sendo realizado e do qual fazemos parte, como espectadores. Se no original Kafkiano, a imitação do homem foi o suficiente para que o símio pudesse livrar-se da jaula e encontrar uma saída "humana" para seu problema, no espetáculo não fica claro a que chega-se com o experimento realizado, o que equivaleria a perguntar, qual o conceito que está sendo debatido com esta nova adaptação. Várias leituras podem ser levantadas por diversos momentos do espetáculo, mas parece-me que o espetáculo se aproxima mais de falar sobre "condicionamento", premissa bastante pertinente, mas bastante diversa da discussão original do texto de Kafka. Assim como é a questão da existência de uma "potência maligna" chamada Hagënbeck Ltda, o que acaba dando um toque maniqueísta à obra.

Com uma atuação bastante segura (de Marcelo de Souza), embora particularmente eu não concorde com a opção de impor um certo didatismo na maneira de falar, o espetáculo encontra bons momentos na construção corporal do homem que ainda guarda resquícios de sua simiesca origem ou, também poderia dizer-se, do símio que ainda sobrevive sob a aparente humanidade, composição esta auxiliada por Vanclléa Segtowitch.

A direção (de Daniel Olivetto, com assistência de Sandra Knoll) estabelece claramente uma linha de pensamento, organizando todos os aspectos da encenação dentro destes limites. Desde a iluminação, passando pela sonoplastia, cenografia, figurinos e demais elementos (na maioria das vezes assinados pela dupla Daniel Olivetto e Marcelo de Souza) são de muito bom gosto e coerentes. Um dos destaques é a confecção do boneco efetuada à seis mãos: Marcelo F. de Souza, Paulo Nazareno(mecanismos) e Sérgio Tastaldi (látex).




No todo, percebe-se a inquietação do grupo em não cair no lugar comum, o que justifica o próprio nome da Cia, porém há que se não deixar levar para o outro lado da balança, caindo na tentação das "invencionices" simplesmente para fazer diferente o que, por si só, já é bastante complexo.