segunda-feira, abril 16, 2007

OTIMISMO!

Um balanço pessoal do Festival Isnard Azevedo.

Após dois dias do término do Floripa Teatro, ainda estou me refazendo fisicamente e mentalmente da maratona que foram esses oito dias. Dos 33 espetáculos anunciados, 02 foram cancelados, 06 eu perdi e 25 eu assistí. Um média de 03 espetáculos por dia. Ufffa!

Se, numéricamente esta edição superou a edição de 2005, o mesmo se pode dizer da qualidade dos espetáculos. Saiu-se bastante menos enfadado dos espetáculos neste ano do que daquela edição. E o festival foi para as ruas, para as escolas, passou a interferir um pouco mais no cotidiano da cidade. É um festival ideal? Ainda não, e creio que nunca será. Afinal, sempre teremos coisas nas quais poderemos dar sugestões e buscar torná-las mais interessantes. E talvez esse seja um dos principais passos a ser dados pela organização: entender que um festival de teatro é um organismo vivo, que talvez tenha que ser re-formatado a cada ano, de acordo com as necessidades da cidade e com produção teatral do país. Desistir de uma vez desse formato competitivo retrógrado que, em muitos casos, afasta algumas companhias profissionais qualificadas.

Por exemplo: um das coisas que não consegui entender neste ano foi a não utilização do Teatro Álvaro de Carvalho. Alguns dos espetáculos da Mostra "Oficial" ficariam muito melhor se mostrados alí. Imagino que alguns grupo iriam preferir apresentar-se em duas sessões do que utilizar o palco do CIC. Talvez uma maior flexibilidade por parte da montagem das grades de apresentações poderia contribuir bastante para um formato mais abrangente de festival.

Outra coisa que não parece contribuir muito é o debate. Parece servir apenas, em alguns casos, como um muro de lamentações para justificar o que não funcionou durante a apresentação, e em outros como um espaço para jogar confeti sobre o elenco que se saiu bem. Pouca coisa foi realmente aproveitável nos debates. Talvez um espaço, num outro horário, numa sala menor, com vários grupos presentes possa trazer informações mais interessantes para quem está assistindo.

Um outro ponto é a ausência de uma mostra dedicada exclusivamente para o teatro para Crianças. A presença de espetáculos para esse público em outras mostras não justifica a ausência da mesma. O festival parece mandar um recado, equivocado, de que este tipo de teatro não é importante para ser discutido, quando a maioria dos grandes festivais do país está se abrindo cada vez mais para ter um espaço privilegiado para os pequenos.

Mas, voltando aos espetáculos, ainda que percebamos uma melhora de qualidade, se compararmos com a edição de 2005, ainda existe uma desigualdade muito grande nos trabalhos apresentados. Se tivemos trabalhos em que era perceptível a pesquisa ou uma proposta clara (A Sombrancelha é o Bigode do Olho - Uma conferência do Barão de Itararé; Sobre Anjos e Grilos; Crimes Delicados; Nem Mesmo a Chuva Tem as Mãos tão Pequenas; ...E o Céu Uniu Dois Corações; Calendário da Pedra), houveram também trabalhos que estavam muito aquém das expectativas ou ainda no espaço equivocado para sua apresentação (A Casa; O Hipnotizador de Jacarés; Casa Verde; Caio Transbordado). A presença maciça de espetáculos ligados ao humor, principalmente clownesco, também pareceu tirar um pouco do caráter de diversidade, visto que o festival nunca se apresentou como "temático".

É verdade que essas diferenças de nível não são uma exclusividade do Isnard Azevedo, mesmo festivais maiores como o de Curitiba e o Porto Alegre em Cena apresentam este mesmo problema, mas com uma diferença: estes festivais não são competitivos e se ocupam em realizar uma amostragem das tendências do teatro brasileiro. Talvez o Floripa Teatro tenha que para pra pensar e decidir à que realmente se propõe. Decidido isto, muitas perguntas e respostas chegarão. E muitas críticas perderão a validade.

O primeiro passo parece ter sido dado: Acordar o festival do imenso marasmo em que ele estava submetido. O que virá agora, só o tempo e a Fundação Franklin Cascaes, dirão. Vamos lá, OTIMISMO!!!


* Foto: Vicente Maia / WEBCLIX

domingo, abril 15, 2007

Acabou!

O Festival Isnard Azevedo chega ao fim. Foram 08 dias de muitos espetáculos e muito público nos espetáculos. O evento parece voltar a fazer parte do calendário da cidade, mobilizando artistas, estudantes e comunidade para a apreciação do fenômeno teatral. Muita coisa pode ser pensada e discutida a partir do formato do festival experimentado neste ano, mas eu vou deixar para um próximo texto um balanço do festival. Hoje, vou me limitar a falar sobre os últimos espetáculos que assisti e a comentar um pouco da premiação. Vamos lá:


Comecei o último dia assistindo ao espetáculo Casa Verde do grupo Milongas vindo da cidade do Rio de Janeiro, RJ. Um espetáculo difícil que parte do conto O Alienista de Machado de Assis para compor sua dramaturgia. Um trabalho que, segundo o próprio grupo, ainda não havia experimentado realizar uma apresentação no espaço da rua. E isso fica evidente, pois o formato escolhido, por demais verbológico, o torna cansativo e pouco criativo. Uma dura jornada para o público.




Ao meio-dia entra em cena o Palhaço Xuxu, criação de Luiz Carlos Vasconcelos, de João Pessoa, PB que apresenta o espetáculo Silêncio Total, Vem Chegando Um Palhaço! Mais um palhaço para participar do Isnard Azevedo? Só que este tem um diferencial: conhece a arte mais do que os outros que já passaram por aqui e cria uma imagem com carisma suficiente para manter a platéia cativa. Criado em 1978, o palhaço Xuxu executa as mesmas gags que estamos acostumados a ver, mas nos deixa perceber uma dimensão humana profunda. Sua obsessão pela beleza, pela arrumação no cabelo, sua faceirice além de nos divertir, nos toca profundamente.




Voltando ao CIC, logo após a cerimônia curtíssima de premiação, assisti ao espetáculo ...E o Céu Uniu Dois Corações! da grupo Teatro Sim... Por que não?!!! de Florianópolis.

O espetáculo é um autêntico melodrama, com direito à muitas lágrimas, risos e reviravoltas na trama. A diretora Neyde Veneziano, especialista em teatro popular faz uma direção correta, utilizando-se de todo o seu conhecimento sobre o estilo para encaminhar o elenco* a realizar adequadamente o espetáculo. Destaques vão para a Dona Santa e Juca, que roubam a cena com seu carisma. Eu, para ser sincera, acho o espetáculo um pouco longo. Acredito que seria possível criar soluções mais criativas para as trocas de cenários sem a necessidade de ser didático, no sentido de que "é assim que se procede no Circo Teatro", embora tenha ficado apaixonada pelo vendedor de amendoim. E esse didatismo também aparece na construção de alguns personagens, principalmente na dupla de vilões e na intrepretação do Pai de Nelly. No todo o espetáculo funciona. O público, principalmente no final, participa da catarse proposta pelo grupo na belíssima e kistch aparição do casal no céu. É impossível não deixar de brotar um sorriso cúmplice no desejo de, finalmente, encontrar a felicidade!

A premiação não me causou muitas surpresas! Na categoria adulto, foram reconhecidos os dois espetáculos que mais funcionaram com o público: Melhor Espetáculo, Atriz, Cenografia e Trilha Sonora para Débora Finochiaro e seu Sobre Anjos e Grilos e Melhor Direção, Ator e Juri Popular para Marcio Vito e seu Barão de Itararé. Na categoria de Rua, venceu a força da idéia de André Carreira e seu Quixote, que ainda levou Melhor Ator, Atriz e Direção. Perfeição – Quando a Tempestade Nasce das Luzes, de SP ficou com o prêmio de Juri Popular (este foi o único espetáculo que não consegui assistir nesta mostra).


*o site
www.floripateatro.com.br não disponibilizou os nomes do elenco deste espetáculo.
** fotos retiradas do site www.floripateatro.com.br .

sábado, abril 14, 2007

Vem chegando o Final...

Praticamente todas as mostras do Festival Isnard Azevedo terminaram nesta sexta-feira. Para o sábado ficou o último espetáculo da Mostra de Rua e os espetáculos convidados. Ainda tive tempo de assistir a 03 espetáculos e o projeto 3x1, ou seja, somei 06 trabalhos! Haja cabeça para pensar tanto sobre teatro.



Meu dia começou com o espetáculo solo da Sessão Pipoca Precisa-se de um Mané, da La Cascata Cia. Cômica de São Paulo, SP. E, se você vem acompanhando o que tenho escrito por aqui, já sabe como estou em relação aos clowns e palhaços neste festival. Pois este espetáculo segue a cartilha de todos os outros que se apresentaram por aqui: uma boa produção, uma palhaço razoavelmente bem preparado (o ator Marcio Douglas, que também dirige o espetáculo) e a repetição de algumas gags já bastante conhecidas pelo público.

Esta situação me lembra o que aconteceu com os espetáculos folclóricos há bem pouco tempo atrás: a saturação e repetição da forma foi tanta que algumas pessoas quando sabem do que se trata fazem questão de passar longe do teatro. E tudo isso feito com a desculpa de se "manter a tradição", quando na verdade o que acontecia era um empobrecimento de um trabalho rico, que deveria estar se relacionando com o mundo de hoje e recriando-se continuamente.

Mas, voltando ao espetáculo, este também sofre com uma certa simplificação na dramaturgia. Estamos acostumados com um fio de história para dar lugar às gags, mas os fios parecem estar ficando cada vez mais curtos. Como a história não é muito enriquecedora, acaba-se por alongar os tempos, deixando o espetáculo um pouco arrastado.


Encerrando a Mostra Paralela tivemos Nem Mesmo a Chuva Tem as Mãos Tão Pequenas, com o grupo de Florianópolis Persona Cia de Teatro.

O espetáculo, criado a partir do texto semi-auto-biográfico The Glass Menagerie, escrito em 1944 por Tenessee Williams, trata de uma família em profunda crise de relacionamento. O pai se foi, deixando mulher e um casal de filhos sós, causando um processo de desintegração pessoal.

Os textos de Williams são famosos pela maneira como transmitia uma vivida tensão sexual e violência reprimida, tratando seus personagens com ironia e compaixão. Dentre a longa lista de textos escritos por ele destaca-se também Um Bonde Chamado Desejo, que ganhou versão cinematográfica.

A montagem florianopolitana é fiel aos preceitos do original, principalmente no que diz respeito ao tratamento dado aos personagens. A direção (de Jefferson Bittencourt) acerta em escolher uma encenação não-naturalista para a obra (o que seria completamente desnecessário) mas apoia-se sobre uma interpretação realista dos personagens (ou, pelo menos algo muito próximo disto). A personagem da filha recebe um tratamento de muita compaixão (tanto do ator quanto do diretor) e a atriz Gláucia Grigolo mantém um trabalho sob medida e com carisma suficiente para dar suporte a ela. Higor Lima me pareceu mais confortável na temporada de estréia, dando lugar a um certo formalismo nessa ultima apresentação. E particularmente, eu discordo do tratamento dado aos personagens por Malcon Bauer e Melissa Pretto. Acho que a mãe peca ao não ser mais sutil, criando uma personagem muito caricata. E o irmão poderia deixar de ser uma figura meio retorcida, investindo mais no que acontece entre as ações e não no resultado delas na cena. No todo o espetáculo funciona.



Na Mostra Oficial fizemos uma viajem ao universo caipira com o espetáculo Flor do Beco com o grupo Teatro do Inconsciente, de Brasília, DF.

Com um trabalho extremamente poético, tanto na forma quanto no conteúdo, o grupo faz uma releitura da obra de Cora Coralina e Monteiro Lobato. A direção (de Marcelo Alves e Débora Aquino) acerta nas escolhas formais, criando um espetáculo de grande beleza visual, sem trejeitos folclorísticos e criando uma suspensão no ritmo urbano ao qual estamos acostumados.

A história fala de três gerações de uma família de mulheres, seu modo de viver e de se relacionar com o mundo. O elenco (Daniela Vasconcelos, Giselle Ziviank, Leila Raquel e Letícia Abadia) é extremamente afinado, criando momentos vocais belíssimos, mas alguns momentos revelam-se por demais formais, tirando um pouco a força da encenação. Acredito que o espetáculo se sairia muito melhor num espaço menor e mais adequado do que o imenso Teatro Ademir Rosa. Vale ressaltar o trabalho da iluminação (de Moisés Vasconcellos) e os figurinos, simples e criativos (de Tatiana Tiburcio e Andréia Alfaia).

E, minha noite teria acabado aí, como normalmente acontece, se eu não tivesse esticado até ao CEART /UDESC para assistir ao Projeto 3X1. São três espetáculos curtos criados por alunos de artes cênicas e unidos num programa de uma hora. Os trabalhos revelam-se ainda muito embrionários, mas é possível perceber que quando os alunos tem um texto mais consistente (no caso: Palavras, palavras, palavras de David Ives) tem mais chance de dar uma forma que já poderia começar a ser mostrada ao público.


sexta-feira, abril 13, 2007

Circo, Palhaços e Um Sopro de Contemporâneidade!

A estética circense parece ter tomado o festival Isnard Azevedo de assalto. Por todo lado que se olha tem um palhaço ou um picadeiro pronto para se encontrar com você. Resta saber se esse é o verdadeiro panorama do Teatro Brasileiro ou se foi uma casualidade tantos grupos que trabalham com esta linguagem estarem participando do festival. Até o final da semana ainda teremos a chance de ver mais espetáculos com clowns, o que faz com que, talvez, alguns espetáculos saiam prejudicados no saldo de meus comentários. Ora, quanto mais a quantidade de oferta, maior o nível de exigência e, até o momento, nenhum espetáculo desta linguagem apresentou um grande diferencial.


Nossa ida ao circo começou na Mostra Cena Aberta com A Farsa do Mestre Pathelin, vindo de Joinville, SC o espetáculo da Dionisos Teatro coloca em cena uma das farsas que, acredito eu, deva ser um dos textos mais montados no teatro. A direção de Silvestre Ferreira coloca o espetáculo, arbitrariamente, em uma estética circense, trazendo os elementos mambembes à cena. A história todos devem conhecer e trata da antiga máxima de "ladrão que rouba ladrão", infelizmente pratica bastante atual. Como destaque no elenco aparece o carisma de Clarice Steil Siewert que junto com Andréia Malena Rocha, Eduardo Campos e Hélio Muniz se aplicam para dialogar com o público. O trabalho musical se insinua como algo que poderia resultar interessante, mas parece ficar no meio do caminho.


Chego, então ao Largo da Alfândega e já encontro o picadeiro montado para O Hipnotizador de Jacarés, espetáculo do Circo Girassol, o último de Porto Alegre, RS a se apresentar na Mostra de Rua nesta edição do festival.
Na minha opinião, esse espetáculo não foi concebido para a rua e isso não necessariamente tem a ver com a utilização de uma formação para palco italiano. Tem a ver com a maneira como os atores (Débora Rodrigues, Heinz Limaverde, e com destaque para Tuta Camargo) jogam e se utilizam do fenômeno da rua ou, no caso, não se utilizam. Os personagens estão muito bem montados, de acordo com os preceitos das gags dos palhaços tradicionais. A produção do espetáculo é primorosa. Figurinos, direção de arte (ambos de Daniel Lion) e cenografia (de Marco Fronkoviack e Dilmar Messias, que também dirige o espetáculo) são perfeitos e irretocáveis. Mas, o timing do espetáculo parece não se adequar com o espaço e uma já conhecida sensação de "mais do mesmo" nos retorna durante toda a apresentação.


E assim, ávidos por algo distinto chegamos à apresentação na mostra oficial de Sobre Anjos e Grilos - O Universo de Mario Quintana, espetáculo multimídia vindo de Porto Alegre, RS com a Companhia de Solos & Bem Acompanhados.

E, na minha opinião, temos enfim um pequeno sopro de contemporâneidade no Isnard Azevedo deste ano. Aspecto este que advem muito menos da utilização das projeções, imagens e mais pelo caráter de experimentalidade do projeto. A busca de uma abordagem mais próxima do performático da atriz Deborah Finocchiaro, que em alguns momentos lembra Denise Stoklos em cena, não pela forma, mas sim pela postura criadora. Talvez pudéssemos questionar se a direção de Jessé Oliveira e Deborah Finocchiaro não se torna um pouco inventiva e excessiva demais, suplantando o poeta. Mas, ao meu ver, a poesia e a postura libertária, quase anarquista, de Mario Quintana dão essa permissão. A essência do poeta está ali, sem o ranço da declamação que, com certeza, deixaria o espetáculo enfadonho. Outro ponto a ser destacado é a beleza das imagens produzidas por Zoravia Bettiol. Verdadeiros achados pela beleza do traço e pela capacidade de síntese de vários elementos encontrados na obra do poeta. Alguns poemas, mesmo que não estejam sendo ditos na cena, aparecem, quase que arrancados de nosso inconsciente, por estas belíssimas imagens.

Talvez, se o festival estivesse oferecendo uma maior diversidade de linguagens, este espetáculo não teria esse caráter tão distinto. No Isnard Azevedo deste ano, pareceu um copo de água no meio do deserto.


* fotos retiradas do site
www.floripateatro.com.br .

quinta-feira, abril 12, 2007

Mãos à Obra! Muitos espetáculos para ver!

Dia de muito trabalho no Festival Isnard Azevedo. Hoje assisti a cinco espetáculos. Além dos que comumente assisto (Rua, Paralela e Oficial), assisti a dois espetáculos da mostra Cena Aberta, que realizam apresentações gratuitas em diversos pontos da cidade.


Comecei o dia com Amor por Anexins do grupo Cirquinho do Revirado, de Criciúma, SC. Realizado em arena, com o casal protagonista (Yonara Marques e Reveraldo Joaquim) em pernas-de-pau, o grupo se sai muito bem com o texto extremamente esquemático de Arthur Azevedo. Uma produção esmerada que se apoia no carisma do elenco para contar a história de um velho solteirão, viciado em anexins (ditos populares) que é loucamente apaixonado por uma mulher gananciosa. Um belo momento do espetáculo é a "ode ao dinheiro", onde percebemos que o vale tudo pelo capital não é uma coisa tão nova assim na história do país.

Logo em seguida corro para a praça XV onde vem chegando de Canoas, RS mais um espetáculo de rua, com o grupo De Pernas Pro’ar. Desta vez, na verdade, O Lançador de Foguetes está mais para uma intervenção do que própriamente espetáculo. Um cibernético personagem interpretado pelo ator e diretor Luciano Wieser chega com um triciclo sonoro e realiza números circenses buscando a interatividade com o público. Uma boa idéia e nada mais.


Na mostra de Rua, também do Rio Grande do Sul, só que desta vez de Porto Alegre, apresenta-se A Mulher que Comeu o Mundo da Usina de Trabalho do Ator. O espetáculo gira em torno de uma mulher que come tudo que lhe aparece pela frente, desde pãezinhos até objetos, pessoas, marido, platéia e a si mesma. Metáfora de uma compulsão pelo consumo, de uma ambição desmedida, da falta de limites experimentada nos dias de hoje, o espetáculo serve para várias reflexões. Como ponto alto os figurinos criativos (Chico Machado), o trabalho musical/vocal (Flávio Oliveira / Marlene Goidanich) e o bom uso das máscaras pelo elenco (Celina Alcântara, Ciça Reckziegel, Dedy Ricardo, Gilberto Icle, Gisela Habeyche e Thiago Pirajira) dirigidos por Gilberto Icle. O único senão vai para a dramaturgia, que poderia ser mais precisa e um pouco menos hermética.


Na Mostra Paralela chego ao meu quarto espetáculo do dia: Santa, do grupo Formas Humanas Animadas, daqui de Florianópolis. Uma criação de Gilbas Piva (texto, direção, cenografia, iluminação e figurino) com atuação de Milena Moraes, que também nasceu como um trabalho para a universidade e ganhou corpo de espetáculo, independente de sua origem. O espetáculo tem um bom acabamento e produção. Sua dramaturgia é bem realizada, clara (sem ser óbvia) e propondo mergulhos numa cena não necessariamente realista. A história contada é de uma mulher de trinta anos metódica, infeliz e virgem até o dia que recebe uma visita inesperada que a faz mudar sua visão do mundo. De uma mulher fria e insensível à um poço de amor e tesão, mudança essa claramente marcada pela iluminação do espetáculo. Como um grande senão no espetáculo está a direção da atriz. Acredito que, por ser um trabalho que está iniciando, diretor e atriz ainda não conseguiram fazer com que seu potencial apareça no todo. Neste momento o trabalho de atuação ainda se mostra um pouco esquemático e formal, com alguns vícios já vistos em outros trabalhos seus. Uma busca de aprofundamento se faz necessária para que o texto possa aparecer com toda a sua potência no palco.


E, por fim, chegamos ao CIC para mais uma apresentação da mostra oficial. In Conserto do Grupo Teatro de Anônimo, do Rio de Janeiro. Devo confessar que fui assistir ao espetáculo com uma certa expectativa. Creio que eu não fui a única, afinal o grupo é reconhecido nacionalmente e internacionalmente. Eu já havia visto, há muito tempo atrás, os espetáculos Roda Saia Gira Vida, O Pregoeiro e gostei muito do que ví. Pode, desta forma, parecer injusto da minha parte, ficar comparando trabalhos do próprio grupo, mas é inevitável. Nos trabalhos anteriores o grupo (principalmente no solo de Márcio Libar), na minha opinião, conseguia evitar o mero "manter a tradição circense". Conseguia unir várias gags clássicas e resignificá-las a favor de um novo trabalho que respirava contemporâneidade. Assim, cenas que já estamos cansados de ver se tornam vivas novamente, voltam a fazer sentido a cada noite ou apresentação. No caso do espetáculo de ontem, ficamos com a sensação de ter visto um pouco de "mais do mesmo". O elenco (João Carlos Artigos, Márcio Libar e Shirley Britto) tem qualidade? Óbvio que sim. Então, onde está o problema? Acredito que o maior problema do espetáculo está na sua direção, ou na falta dela. Os números criados por Nani Colombaioni e Ricardo Pucetti são ótimos tijolos como matéria-prima , mas falta argamassa para uní-los e construir um espetáculo.
*fotos retiradas do site www.floripateatro.com.br

quarta-feira, abril 11, 2007

Um Dia Dífícil no Isnard Azevedo!


Nesta terça-feira tivemos um dia difícil no Isnard Azevedo. Se nos dias anteriores a pauta estava tendendo mais para o humor, ontem, o festival optou pelo drama nas mostras paralela e oficial e pelo lirismo na mostra de rua. Mas, que fique claro, não foi o gênero dos espetáculos a dificuldade, mas sim a execução dos mesmos.


Como sempre, primeiramente assisti à mostra de rua. Das Saborosas Aventuras de Dom Quixote de La Mancha e seu Fiel Escudeiro Sancho Pança – Uma História que Poderia Ter Sido foi o espetáculo trazido pelos goianos do grupo Teatro que Roda. Como o nome mesmo indica, o espetáculo propõe uma releitura do personagem criado pelo espanhol Miguel de Cervantes. Sancho Pança é um catador de papéis, Rocinante é o carrinho deste catador e um executivo meio em surto assume o papel do valente cavaleiro, lutando contra máquinas escavadeiras e bad boys. E, talvez a leitura seja até interessante, se tivessemos podido assistí-la. Não consigo dizer se faltou condução do diretor André Carreira ou se o elenco (Liz Eliodaraz, Dionísio Bombinha, Hugo Mor, Patrick Éster, Bimbo, Fernando Moterane, Ieda Marçal) não estava preparado para a empreitada em que se meteram. Da maneira como vimos este espetáculo neste festival não foi possível recolher mais do que fragmentos e idéias, que a primeira vista parecem interessantes, mas não terminam de se consolidar como espetáculo. O público, na maioria das vezes também parece desorientado. Como exemplo disso, ninguém se deu conta quando o espetáculo acabou! E a pergunta mais frequente era: Quem são essas loucas de branco que ficam correndo? Se conseguíssem ouvir o texto do Quixote, pelo menos saberíam que o nome das loucas era Dulcinéia, ou pelo menos, uma representação dela.


Nosso desafio seguinte foi Caio Transbordado, espetáculo dos grupos Anônimo Ato e Teatro em Trâmite daqui de Florianópolis. Tendo nascido de uma pesquisa pessoal e acadêmica do ator Rodrigo Mendes sobre interpretação, resultou no trabalho de conclusão de curso intitulado Caio Transbordado: Reflexões sobre o Corpo do Ator como Construção de Dramaturgia. O espetáculo, dirigido por André Francisco, começa de maneira bastante impactante. É impossível não se impressionar com o ator, a música (de Neno Miranda) e o ambiente proposto (de André Francisco, Marcus Maglia e Paula Kovalski, que, quase que imediatamente, nos remete à um manicônio). Mas, após quinze minutos da apresentação, já estamos tentando, em vão, encontrar chaves para que possamos dialogar com o espetáculo. Dessa forma, uma linearidade vai se estabelecendo e acabamos por desistir de tentar compreender o que, realmente, acontece na cena. O rótulo "experimental" parece preconceituosamente pesar como uma maldição sobre o trabalho, virando homônimo de hermético e cansativo.


E pensando em hermetismo chegamos ao espetáculo A Casa do grupo E(x)periência Subterrânea, também da cidade de Florianópolis e também dirigido por André Carreira. Já havia visto o espetáculo no pequeno teatro do SESC Prainha, no final do ano passado (para saber sobre a história leia o comentário anterior em http://momento-critico.blogspot.com/2006/11/invadindo-casa.html) e fui assistir ao espetáculo para ver sua evolução, além de conferir como ele se comportaria em um teatro tão grande quanto o do CIC. Plasticamente o espetáculo ganha maior impacto num espaço tão grande, já não se pode dizer o mesmo no sentido da atuação: a atuação de Paulo Vasilescu, que parecia tão vigorosa no teatro do SESC, aqui aparece numa medida exata; já Heloise Baurich Vidor encontra maiores dificuldades, principalmente na projeção vocal. O hermetismo, continuou. Fui pra casa dormir, exausta!

terça-feira, abril 10, 2007

Começa a Maratona e, até que enfim, um pouco de humor instigante.

O Festival de Teatro de Florianópolis Isnard Azevedo abriu na noite de sábado, mas a maratona começou nesta segunda-feira. Com a ampliação da quantidade de mostras, implantada este ano, é necessário fazer um grande malabarismo para poder, pelo menos, tentar assistir ao maior número de espetáculos participantes. Amplia-se a diversidade e quem sai ganhando é o público com a grande variedades de opção. Se bem que, até agora o festival parece ter optado por uma cartilha mais voltada ao humor, nas suas mais variadas formas.


Comecei meu dia teatral com a abertura da Mostra de Teatro de Rua, assistindo ao espetáculo A Revolução dos Bichos da Cia. 4 Produções, de Porto Alegre, RS. Ao contrário de Florianópolis, a capital gaúcha tem uma grande tradição de espetáculos para a rua, já tendo inclusive, participado de inúmeras edições do Isnard Azevedo, assim como de festivais e mostras em todo o Brasil.

O espetáculo dirigido por Arlete Cunha (que também atua) optou por realizar sua apresentação fora da lona montada pela organização do festival, mantendo-se na tradição de interagir no cotidiano da cidade para contar a história (adaptada do romance homônimo de George Orwell, de 1945) de uma revolução realizada pelos bichos de uma fazenda, lideradas pelos porcos. Porém, logo as disputas de poder, as explorações dos bichos pelos próprios bichos ameaçam o ideal do Estado Igualitário. A produção do espetáculo é bem esmerada, com destaques para as máscaras, figurinos e todo o acabamento plástico. No todo o espetáculo não convence, tendo como principal motivo a falta de tônus do elenco e talvez algumas dificuldades na adaptação do texto.



Abrindo a Mostra Paralela o Grupo Teatral Acontecendo Por Aí de Itajaí, SC coloca em cena um ótimo texto de José Antônio de Souza chamado Crimes Delicados. Uma comédia inteligentíssima, com pitadas de teatro do absurdo, onde um casal de classe média alta está as voltas com a tentativa de realizar um assassinato. Contar mais da história seria estragar algumas surpresas, mas a inversão de valores contida no texto nos faz refletir sobre a sociedade em que vivemos, ao mesmo tempo que nos divertimos com o humor negro apresentado.

Com uma direção apenas correta de Pepe Sedrez, o espetáculo ganharia mais qualidade se o elenco conseguisse dar mais verossimilidade ao texto, não se prendendo a certas empostações que nos afastam da situação proposta. Nesse sentido, a aparente banalidade utilizada pela empregada (Lenita Novaes) nos aproxima mais do clima de pesadelo e nonsense, ao contrário do que acontece com o casal de patrões (Luciano Estevão e Melize Zanoni). O tratamento plástico é agradável, bem realizado e coerente com a concepção dada a montagem.



E, por falar em aparente banalidade, chegamos ao terceiro espetáculo de nossa maratona: A Sobrancelha É o Bigode do Olho – Uma Conferência do Barão de Itararé, espetáculo solo de Marcio Vito, dirigido por Nelson Xavier e produzido pela KL Produções e Promoções Artísticas, da cidade do Rio de Janeiro.

Numa situação aparentemente não-teatral, o Barão de Itararé nos presenteia com uma conferência sobre o otimismo, passando por outras inúmeras divagações, assuntos diversos e momentos extremamente filosóficos, tudo isso permeado por um humor ácido e crítico, algo bastante desejado quando se assiste à uma comédia. Conduzido de maneira seguríssima, o espetáculo faz com que o público aceite um outro ritmo muito distinto do qual estamos acostumados a vivenciar neste século. Cria uma suspensão no tempo. Raramente 60 minutos passam tão rapidamente dentro de um teatro. O espetáculo, ao mesmo tempo que entretém, questiona. E não seria a função do Teatro?

segunda-feira, abril 09, 2007

No limite do Bom Gosto!



O Festival de Teatro de Florianópolis segue em seu segundo dia de programação. Neste domingo contou com uma palestra ministrada pelo diretor paulista Francisco Medeiros sobre o Teatro Grupo e o Trabalho Colaborativo no Teatro e com o espetáculo Pequenas Caquinhas do Grupo Antropofocus de Curitiba, PR.

Pequenas Caquinhas é um espetáculo que busca oferecer ao público uma comédia que não se renda ao humor fácil. São pequenas cenas (as tais caquinhas do título) sem nenhuma linha lógica que as una, ou seja, sem nenhuma pretensão de contar uma história e nem mesmo de gerar algum tipo de questionamento crítico. O que temos aqui é um tipo de humor que usa a inteligência dos espectadores para terminar de construir as imagens e as gags, que quase sempre utilizam-se de elementos inusitados ou do nonsense. E o espetáculo vai empurrando o limite desse humor sempre o máximo possível, não desiste enquanto não nos faz pensar "eu não acredito que eles fizeram isso!".

Fica claríssimo que o elenco (Anne Chelli, Danilo Correia, Jairo Bankhardt, Marcelo Rodrigues, Vitor Hugo) e o diretor (Andrei Moscheto, que também atua) sabem manipular todas as técnicas do humor com maestria. Sabe encontrar os tempos das piadas, as pausas, construir as gags e se valer de suas influências (os britânicos do Mounty Python, os argentinos, praticamente desconhecidos no Brasil, dos Les Luthiers, o desenho animado South Park, entre outros) para construir um verdadeiro caldeirão que beira o grotesco e em alguns momentos o mau gosto (sem, no entanto, cair nele!).


Pode-se dizer assim que o espetáculo, sem sombra de dúvida, cumpre seu papel. O que se pode, talvez, questionar é se o papel de puro entretenimento justifica o ritual de ir até o teatro. O público, aplaudindo apaixonadamente de pé, parece dizer que sim. Então, vamos embora comer uma pizza!

* As fotos foram retiradas do site do grupo: www.antropofocus.com.br

domingo, abril 08, 2007

Abertura com Casa Cheia!



Iniciou-se o 14o Festival de Teatro de Florianópolis Isnard Azevedo! Mais uma vez a cidade será palco de muitos espetáculos, oficinas, debates, palestras sobre as artes cênicas brasileiras. Um grande painel do que é produzido no Teatro Brasileiro é mostrado ao público que, se repetir o número que compareceu à abertura, lotará os teatros e espaços da cidade.

Para marcar a retomada do festival convidou-se um dos grandes ícones do Teatro Brasileiro para realizar o primeiro espetáculo desta Edição. Denise Stoklos, criadora do Teatro Essencial, apresenta Calendário da Pedra, trabalho solo escrito e dirigido por ela (característica bastante marcante em sua produção).

Calendário da Pedra tem sua estrutura inspirada no poema Book of Anniversary de Gertrude Stein. Uma aparente estrutura de diário que vai narrando, quase que diariamente, os acontecimentos de, segundo a autora, uma pessoa que poderia ser qualquer uma de nós. Mais claramente, o espetáculo parece demonstrar os pequenos acontecimentos cotidianos (ou a falta deles), quase banais até, mas que na somatória acabam refletindo aquilo que chamamos de vida. O tratamento, horas grotesco, horas lírico, dado à essa personagem (que somos todos nós, não esqueçamos disto) nos oferece um espelho claro e contundente sobre nossas escolhas, nossas manias, nossas maneiras de enxergar o mundo. Em alguns momentos o texto lembra algumas brilhantes criações de Dario Fo e Franca Rame.

No todo o espetáculo funciona muitíssimo bem e a platéia sai contentíssima com o que acabou de presenciar. O espetáculo está completamente apoiado sobre o trabalho histriônico de Stoklos que demonstra domínio total da cena e de sua técnica. Os recursos de cenografia, iluminação, figurino e sonoplastia são mínimos, o que torna ainda mais claro a linha da qual ele se deriva: a mímica contemporânea e o teatro dito físico.

O que se pode questionar, sem desmerecer o trabalho apresentado, é a ressonância que esse trabalho alcança na platéia se compararmos com outros trabalhos desta mesma intérprete. Se em Um orgasmo adulto escapa do zoológico, o impacto do seu trabalho mímico era uma grande novidade no Brasil e na América do Sul; em 500 anos - um fax de Denise Stoklos para Cristóvão Colombo o que mais chamava a atenção era a revisão crítica da história do nosso continente; assim como em Des-Medéia era potente a descontrução do mito grego; sem falar em trabalhos mais recente, como Louise Bourgeois: Faço, Desfaço, Refaço e Vozes Dissonantes; é possível nos perguntarmos o que nos traz de tão essencial esse Calendário?


Talvez o festival nos aponte caminhos, ou nos traga mais argumentos para essa discussão.



* Fotos retiradas do site www.denisestoklos.com.br , de autoria de Thais Stoklos.

sexta-feira, abril 06, 2007

Tudo ao Mesmo Tempo Agora!



Não sou uma especialista em dança contemporânea. É bom podermos partir deste princípio. Mas, tive algum tipo de formação na área, o que faz com que, pelo menos, tente perceber em alguns espetáculos seus princípios. Quando o espetáculo tem uma ligação maior com o teatro ou a dança-teatro, ou ainda quando tem uma dramaturgia mesmo que fragmentada, auxilia minha percepção. Quando isso não é aparente, confesso que tenho mais dificuldade em me conectar com ele.

Fui assistir Movimento para 6 no CEART, nesta semana. Um espetáculo de dança contemporânea com concepção e direção de Zilá Muniz em colaboração com seis criadores-intérpretes (Elisa Schmidt, Egon Seidler, Letícia Martins, Paula Bittencourt, Karina Degregório e Vicente Mahfuz). Desde o início do espetáculo se percebe a garra e a dedicação do elenco, assim como percebe-se também a clareza com que a diretora organiza o material recolhido nas improvisações dos intérpretes. Não é um trabalho simples o que o grupo propõe, mas existe empenho para realizá-lo.

Segundo o release do grupo, o espetáculo tem uma dramaturgia que se desenvolve a partir de "cenas que se desenrolam como um passeio através de paisagens construídas por estados corporais, traduzindo imagens corpóreas que traçam pontualmente momentos precisos de vida que se entrelaçam, recombinando a heterogeneidade, num fluxo contínuo de impulsos, correntes e contatos."

Confesso que tive um pouco de dificuldade para perceber as diferenças entre essas imagens corpóreas nos interpretes. Consigo perceber onde, teóricamente, estão as mudanças das cenas, pois estas estão bem sinalizadas principalmente pela sonoplastia e em alguns momentos pela iluminação. O espetáculo explora, principalmente no início e em alguns momentos de maneira bastante vigorosa, um jogo de tonalidades na iluminação (de Camila Ribeiro), criando distintos climas e nos levando a realizar leituras bastante subjetivas. Partimos de um vermelho intenso, passando por tonalidades de azul, verde e até a projeção em sombra das folhas de uma árvore. Um dos momentos plásticos mais bonitos do espetáculo. Quanto mais se aproxima do final, a iluminação começa a dar sinais de que algo não está totalmente claro na dramaturgia.

Um outro ponto que merece ser observado é que, mesmo com a garra dos intérpretes, é visível a juventude técnica do elenco. Essa falta fica ainda mais clara quando eles adentram o terreno coreográfico propriamente dito, ou seja, quando tem uma tarefa com o que estamos acostumados a chamar de dança. Por mais que se tenha respeitado as individualidades e a heterogeneidade do elenco, sente-se uma falta de apuro nos tempos e nas finalizações dos movimentos.

No conjunto fiquei com a sensação de que se estabele uma certa linearidade, tanto na energia dos intérpretes quando no discurso do espetáculo. Depois dos primeiros 20 minutos, tem-se a sensação de que veremos mais do mesmo. Em alguns momentos uma grande catárse do elenco, um tudo ao mesmo tempo agora que não me dá chaves para adentrar e participar do prazeroso jogo dos intérpretes.