sábado, julho 21, 2007

Existe diálogo no Púpilo Quer Ser Tutor?



Em cartaz no Teatro da Ubro, de quinta a domingo, até o dia 29 deste mês, o Teatro Sim...Por Que Não?!!! apresenta o espetáculo O Pupilo Quer Ser Tutor, de Peter Handke, com direção de Francisco Medeiros.


O texto, do autor contemporâneo austríaco, muito conhecido por seus escritos verborrágicos e também por sua colaboração no cinema com Wim Wenders (é dele o argumento que deu origem a Asas do Desejo), não se utiliza de palavras/falas (assim como fez em A Hora em que Não Sabíamos Nada Uns dos Outros, montada no Brasil pela Cia. de Teatro Elevador Panorâmico, direção de Marcelo Lazzarotto) para narrar, se é que se pode dizer assim, a disputa de poder entre duas forças antagônicas claras: o tutor (Nazareno Pereira) e o pupilo (Leon de Paula). Interessado em diálogos mais contemporâneos com os espectadores, mais afeito a provocações do que à soluções simples, Peter Handke , nascido em 1942 na Áustria, além de teatro já escreveu diversos livros e participou ativamente das discussões sobre questões políticas, tendo inclusive sido retirado um texto seu do repertório 2007 da Comédie Française, por causa de sua participação no funeral de Slobodan Milosevic, presidente da Sérvia. Polêmicas a parte, seu trabalho como dramaturgo é inquestionável, visto a estrutura que nos é apresentada nesta montagem em Florianópolis. A partir de jogos simples, constrói um mundo de alegorias sobre o poder e suas estratégias de repressão.


O diretor Francisco Medeiros, o assistente de direção José Ronaldo Faleiro, o cenógrafo e figurinista Fernando Marés e o próprio grupo têm trajetórias repletas de êxitos. Todos são premiados nacional e até internacionalmente por seu trabalho. O grupo e Faleiro são praticamente ícones do teatro em Santa Catarina. O grupo, inclusive, deixa claro o porquê dessa presença no cenário catarinense aventurando-se em um trabalho incomum, se compararmos este espetáculo às suas últimas realizações (...E o Céu uniu Dois Corações e A Farsa do Advogado Pathelin), com um caráter muito mais popular. Só pelo risco assumido, já merece os parabéns! Todas as áreas da produção são impecáveis. Soma-se as já citadas acima, a iluminação de Domingos Quintiliano e a trilha sonora de Aline Meyer. Mas, o destaque, sem dúvida é a impecável cenografia.


Com tantos predicados, é de se esperar que o espetáculo seja uma magnífica realização. Em minha opinião, ainda não é. Por mais que o espetáculo seja de um acabamento refinado, falta um sopro de vida no cenário. A sensação que tive é que o espetáculo não encontra eco na platéia. Os jogos de poder, por mais que estejam insinuados, não se realizam plenamente na cena, chegando em alguns momentos a perder um pouco de sentido. Várias possibilidades podem ser levantadas para esta falta de comunicação: uma direção esquemática demais, que se apóia sobre as ações contidas no texto mas que não as torna críveis no trabalho dos atores. Por mais formalista que se possa pretender a concepção do espetáculo, deve existir uma lógica que faça com que o que estamos vendo em cena adquira sentido e dialogue com a platéia. Ou ainda, o problema pode estar na figura do "tutor" que não parece exercer o poder necessário sobre o "pupilo", fragilizando a relação que é necessária estabelecer. Leon de Paula, neste sentido realiza um trabalho mais preciso, com alguns momentos preciosos.


No todo, um espetáculo profissional, limpo e bem realizado, mas "a conversa (...) entre a cena e o público"? Acontece? Eu permaneci calada!

segunda-feira, julho 02, 2007

Pobres Crianças de Oz!



A publicidade utilizada na promoção de um espetáculo (seja ele filme, teatro, dança ou circo, entre outros) pode definir seu sucesso ou seu fracasso. Mas, nossa tarefa como artistas, público e, principalmente, pais é tentar ver além do que dos oferecem e tentar encontrar opções que contribuam para a formação das nossas crianças, muito além do puro entretenimento. Não estou defendendo, de maneira nenhuma, o teatro pedagógico ou didático. Estou tentando entender o espetáculo O Mágico de Oz que assisti, com minha filha, este final de semana no Teatro do CIC.

Quando intitulamos um espetáculo de "remontagem brasileira o musical da Broadway", damos uma idéia muito clara do que pretendemos mostrar aos espectadores. Quando as principais armas da divulgação são os "efeitos visuais deslumbrantes" e a quantidade dos atores e dos equipamentos envolvidos, nos comprometemos com estas palavras de oferecer um ESPETÁCULO para o público. Não foi isso que aconteceu! Eu nunca fui a Broadway para assistir à nenhum dos espetáculos montados lá, mas pude ver algumas montagens da CIE - Brasil de musicais consagrados que fizeram temporada no Brasil. A qualidade da produção vista neste espetáculo não chega perto das produções de Chicago e O Fantasma da Ópera, como exemplo de outras transposições.

Mas, o que mais me amedronta nesta produção vista em Florianópolis, é a sucessão de equívocos relacionados ao fazer teatral para crianças. As falas infantilizadas, o visual colorido e brilhante (em excesso, na verdade), a falta de preparação do elenco, as posturas ilustrativas e super atuadas enchem o espetáculo de tédio. Até o momento "onde está?", "não estou vendo" que incita as crianças a gritarem para os atores estava presente.

A história escrita nos muitos livros de L. Frank Baum que fala de uma menina que precisa perder tudo que tem em sua vida para aprender a dar valores às coisas simples está totalmente deturpada. A versão do texto utilizada nesta montagem, que parece ter se baseado no filme e não nos livros originais, parece existir somente para poder encaixar as músicas, estas sim, bem escritas e adaptadas por Cláudio Botelho. O espetáculo perde completamente a lógica e parece ser obrigatório conhecer o filme para poder entender o que se passa.

Tal produção só reforça a crença de alguns que vêm fazendo um trabalho bastante parecido com esse nos últimos anos, menor apenas em escala e grandiosidade inócua. Enquanto isso vários trabalhos com grandes qualidades artísticas, pedagógicas e que não menosprezam a inteligência das crianças não conseguem ser vistos por esta quantidade de crianças. Porque será que os produtores da cidade não se unem aos artistas competentes? Tenho certeza de que as pobres crianças de FlorianOzpolis adorariam!