sexta-feira, agosto 31, 2007

Os Valentes de Esparta!



Conta a história que quando as forças do Império Persa transpuseram o Helesponto para invadir e escravizar a Grécia, 300 valentes guerreiros de Esparta foram ao Desfiladeiro das Termópilas para tentar conter sua avassaladora superioridade numérica. Esses homens e a força de seus ideais resistiram bravamente. Suas armas foram destroçadas e eles continuaram lutando, até serem dominados e massacrados.

Esta é a história (recentemente mostrada no cinema, no filme "300") que o Grupo de Theatro Melpomene, da Associação Cultural Nova Acrópole conta no espetáculo Esparta, em cartaz neste final de semana no Teatro da Ubro. A história desses valentes guerreiros e de suas mulheres fortes que ficaram para trás, aguardando seus homens que nunca retornaram.

Os integrantes do grupo (chamados de filósofos-atores no programa do espetáculo) são artistas amadores (no melhor sentido da palavra) trabalhando em regime de voluntariado. O elenco numeroso (Valdirene da Costa, Goldenberg Lima da Silva, Marta Lobo, Fernanda Trindade Soares, Rodrigo Hauers, Claudio Goulart, Gilberto Sulzbach, Gilnei Quadros, Amanda Marchesini, Taiara Barbosa da Silva, Fabiana Cristina Turelli, Roger Hansen, Rodrigo e Miguel Philippi, Mariana Soziopoulos Steiner, Cláudio Drumont, Ana Paula Hasckel e Megaron Molossi) mostra-se empenhado em cumprir o que lhes foi passado por sua diretora artística Waléria Pessoa em 12 meses de aprendizado e ensaios.

O elenco feminino se sai melhor na batalha. Talvez pela sensibilidade mais aguçada, algumas mulheres alcançam os momentos mais interessantes do espetáculo, onde numa interpretação realista (e não naturalista, como equivocadamente se classificam no programa) em dois momentos conseguem tocar a platéia: a cena da entrega do bebê e a crise nervosa de Paraléia. O elenco masculino peca pelo excessivo tom gritado na fala, sem conseguir dar vida ao texto tão complexo.

Na tentativa de obter uma atmosfera trágica (bem realçada pela concepção musical de Samuel Olivo Scaini), a direção peca por impor um tom formal a todo o espetáculo. Em alguns momentos nos falta uma maior variação de ritmos nas ações e nos acontecimentos. Embora a música indique grandes mudanças, o corpo dos atores e o ritmo do espetáculo não seguem esta mesma informação. A limpeza cênica obtida pela diretora com os atores com pouca experiência é um das qualidades do trabalho, resta agora tentar fazer com que as movimentações se tornem mais orgânicas, emprestando-lhes o vigor e as tensões necessárias.

Outro ponto a considerar é o tratamento estético dado ao espetáculo. Embora se note o cuidado com a confecção de figurinos e adereços, estes pecam por tentar ser cópias fiéis dos originais. O caso é que as texturas dos tecidos e objetos ficam muito longe do esperado. Talvez a direção de arte pudesse ser um pouco mais criativa e tentar criar uma linguagem própria para a cena que é possível neste momento. Um exemplo claro são os bancos de plástico, extremamente distante de qualquer coisa que possamos lembrar como grego.

O resultado é uma batalha que está sendo travada! Um grupo iniciante que tem muita coragem e se expõe sem restrições. Mas que, neste momento, ainda perde a guerra contra as dificuldades encontradas. Certamente outras batalhas virão e encontraremos os seguidores da Musa da Tragédia mais fortes e melhores guerreiros. Evoé!

quinta-feira, agosto 02, 2007

Pura Falta de Sentido!


Existe um período da vida da gente em que gostamos de chocar! Muitos artistas utilizaram-se desta estratégia para chamar a atenção para alguma causa, para levantar alguma discussão pertinente ou ainda para conseguir seus quinze minutos de fama. A possibilidade de surpreender a platéia com uma ação inesperada, com uma ação que a retire de sua passividade e a coloque diante de paradoxos ou situações limite é uma poderosa arma na comunicação teatral.

Una-se a isto uma temática arriscada e pouco explorada no cenário cultural catarinense, a homossexualidade, e o que temos? Uma receita explosiva que pode resultar numa realização com forte apelo, tanto artístico quanto comercial.

Interessada nessa mistura, fui ao Teatro Álvaro de Carvalho nesta quarta-feira para assistir ao espetáculo Juan e Marco com Marcelo Lalau e Nando Schweitzer (que também assina texto, direção e música original).

Ao chegar ao teatro me deparei com o cartaz (não havia visto antes) que trazia as seguintes frases: "segundo o ministério Público: Imprópria para Menores" ; " Aviso: quem ri de Zorra Total, A Diarista, Sob Nova Direção e similares não irá entender as piadas" e "o espetáculo mais polêmico de sua vida!", entre outras. Confesso que tive vontade de recuar, mas compreendi que as frases eram humoradas e tentavam, desesperadamente, atrair público ao teatro. Ou seja, me identifiquei com esta necessidade, afinal todo artista quer que seu trabalho seja visto.

Felizmente o teatro estava praticamente vazio! Digo felizmente porque o espetáculo é uma sucessão incomensurável de equívocos, preconceitos e falta de respeito com o público. Para início de conversa é de um amadorismo (no sentido pejorativo) tremendo. Os atores obviamente não têm suas falas decoradas. Andam pelo cenário (?) sem parar, sem nenhum tipo de intenção ou desenho de cena. Não sabem posicionar-se na luz, ficando quase o tempo todo com metade do corpo iluminado e o rosto no escuro. Tem péssimo trabalho vocal fazendo a platéia perder muito do texto que é mal falado. Fingem, de maneira primária, emoções que não convencem a ninguém na platéia, causando, na maioria das vezes, risadas quando deveriam emocionar e um silêncio constrangedor quando deveria haver risadas.

Fiquei me perguntando onde estava a razão da tão esperada polêmica. Será que esperavam criar polêmica por causa da nudez dos atores? Não seria a primeira vez que isso se faz no teatro, nem mesmo aqui em Florianópolis. O beijo entre os dois homens? Talvez se fosse levado a sério e não da maneira histérica como aconteceu poderia provocar alguma reação na platéia. Seria polêmico discutir a relação homossexual de maneira banal e com uma falta de lógica absurda?

Talvez seja polêmico saber que o diretor da peça esteja oferecendo cursos de interpretação e canto na cidade. Talvez seja polêmico que não exista nenhum tipo de rigor no momento de se ensaiar um espetáculo. Talvez seja polêmica a pura falta de sentido encontrada neste espetáculo. Mas, acho que polêmica não seria a palavra adequada, mais correto seria dizer constrangedora!