terça-feira, novembro 21, 2006

Invadindo a Casa...


Volta em cartaz, no SESC Prainha, o espetáculo A Casa Tomada do Grupo E(x)periência Subterrânea, dirigida por André Carreira, com texto/roteiro de Silvana Garcia (a partir da literatura de Júlio Cortázar) e com atuações de Heloíse Baurich Vidor e Paulo Vasilescu.

Tentei encontrar algum material (release) sobre o que o grupo propunha com este trabalho, mas não consegui. O próprio programa do espetáculo não dá muitas indicações sobre o escritor, montagem, idéia, concepção... levando a crer que o grupo acredita que o espetáculo deve se explicar por ele mesmo (idéia com a qual, particularmente, compartilho!). Mas, em se tratando de Cortázar, não é uma tarefa simples.

Não havia lido o conto antes de ir ao espetáculo, logo não tinha nenhuma informação sobre o que iria presenciar. Neste sentido, terminei o espetáculo com bastante dúvidas sobre o que havia presenciado. A história é simples: Dois irmãos vivem em uma casa grande e levam uma vida solitária. Irene tece, sem parar. O irmão lia, mas já não há literatura decente. E assim eles vão levando suas vidas até que começam a ouvir estranhos ruídos em várias partes da casa e se dão conta de que a casa está sendo tomada. A trama desenvolve-se até que são "obrigados" a abandonar a casa e jogam a chave num bueiro, pois "se alguém decide entrar para roubá-la, vai encontrar a casa tomada".

Esta "alegoria do sentimento de invasão" apontada pela primeira vez por Juan José Sebreli no ano de 1964 em “Buenos Aires, vida cotidiana e alienação” (in SEBRELI, 2003: p.102), pode ser uma das chaves para a leitura do conto e, talvez, do espetáculo. Mas, afinal, de que invasão estamos falando neste caso? Que sentimentos é este? Com que situações contemporâneas podemos estabelecer links de pensamento? De que maneira o espetáculo aponta qual a sua real razão de existir? Arte pela arte?
A cenografia (de André Carreira) parece ser o grande achado da encenação. Auxiliada pela iluminação (também de André) nos ajuda a criar inúmeras imagens e sensações de distanciamento e perda. A maneira como os personagens vão ficando difusos, quanto mais se distanciam de nós e vão perdendo espaço na casa, pode também servir de indicação de possível leitura para o espetáculo.

Os figurinos (de José Alfredo Beirão) e a sonoplastia (assinada pelo Trio Koan: Diogo de Haro, Francisco Wildt e Jefferson Bitencourt) são apenas "corretos". O mesmo se aplica às atuações; neste caso com um melhor desempenho de Paulo Vasilescu, que consegue momentos mais consistentes e inspirados. Seu trabalho vocal resulta bastante interessante.

No todo o espetáculo resulta bastante instigante, mas talvez necessite deixar de ser tão hermético e oferecer chaves para uma melhor relação com o público. Capacidade para isto o grupo tem, como já podemos ver em trabalhos anteriores, tais como Album Sistemático de Infância e Women's.

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