
Estreou dia 28 de outubro, em Florianópolis, na sala Lindolf Bell, o espetáculo Butterfly da Andras Cia. de Dança-Teatro. O espetáculo está inspirado na obra Madame Butterfly, escrita pelo americano John Luther Long em 1900. Quatro anos depois, foi adaptado para a linguagem lírica pelo italiano Giacomo Puccini. Daí em diante recebeu diversas montagens e versões pelo mundo.
Nesta montagem, de dança-teatro, não há texto falado, ou seja, não existem palavras pronunciadas pelos atores-bailarinos (Barbara Biscaro, Clara de Andrade, Juarez Nunes, Milton de Andrade, Monica Siedler e Samuel Romão) e além de ser uma espetáculo, também é uma exposição de artes plásticas contemporânea, composta por objetos cênicos (elaborados por Roberto Freitas, Roberto Gorgati e Herberth Bolaños) que envolve os participantes das apresentações.
O espetáculo dá seguimento à proposta do grupo de dar uma nova roupagem à obras clássicas (iniciada com Quixote, espetáculo premiado na Itália pela pesquisa e renovação poética sobre o tema), trabalhando nelas temas contemporâneos, atualizando-as, ou encontrando novos significados.
Por já conhecer a obra de Puccini, creio ter sido um pouco mais fácil o entendimento sobre o espetáculo (não que eu ache que o coreógrafo/diretor Milton Andrade queira que o espectador "compreenda" a obra em sua totalidade). Mas, não sei se uma pessoa que nunca tenha visto, ou lido, ou ouvido falar sobre a obra original vá ter condições de identificar alguns signos presentes no espetáculo. Os conflitos parecem mais esboçados do que realmente apontados nesta versão. O choque entre duas culturas (ocidental e oriental), entre o masculino e o feminino, entre os personagens não acaba de se esclarecer totalmente.
Por outro lado, resulta muitíssimo interessante o trabalho de vídeo realizado (Roberto Freitas e Roberto Gorgati). Não caindo na mera ilustração e sim propondo novos significados para a obra em andamento. A entrada das mãos que, algumas vezes, parecem manipular os personagens, em outras parecem acalentá-los e noutras ainda, parecem esmagá-los nos faz encontrar mil significados e/ou possíveis leituras.
Ao mesmo tempo, a utilização espacial da Sala Lindolf Bell parece carecer de maior unidade. Não consigo fazer uma ponte entre o que é para ser "visto" e o que é "instalação/cenário". Neste campo ainda, a direção e os personagens parecem não terem delimitado claramente seus "territórios". Onde estamos em cada momento da obra? Que lugar é esse? Espaço de encontro ou guerra? Que valor assume, em cada momento, cada espaço onde as coreografias acontecem?
Vale ressaltar o trabalho interpretativo de Monica Sidler (atuando com bastante inteireza em sua participação, oferecendo uma gama de sutilezas dentro da personagem) e o carisma de Clara de Andrade (realmente um encanto em cena!).
E, o que talvez seja o mais importante, percebe-se a clareza com que o grupo se aprofunda em seu trabalho. Oferecendo um espetáculo consistente que não se deixa seduzir pelo viés fácil do exibicionismo. Um grupo que ainda deve gerar belíssimos frutos em Florianópolis.
Nesta montagem, de dança-teatro, não há texto falado, ou seja, não existem palavras pronunciadas pelos atores-bailarinos (Barbara Biscaro, Clara de Andrade, Juarez Nunes, Milton de Andrade, Monica Siedler e Samuel Romão) e além de ser uma espetáculo, também é uma exposição de artes plásticas contemporânea, composta por objetos cênicos (elaborados por Roberto Freitas, Roberto Gorgati e Herberth Bolaños) que envolve os participantes das apresentações.
O espetáculo dá seguimento à proposta do grupo de dar uma nova roupagem à obras clássicas (iniciada com Quixote, espetáculo premiado na Itália pela pesquisa e renovação poética sobre o tema), trabalhando nelas temas contemporâneos, atualizando-as, ou encontrando novos significados.
Por já conhecer a obra de Puccini, creio ter sido um pouco mais fácil o entendimento sobre o espetáculo (não que eu ache que o coreógrafo/diretor Milton Andrade queira que o espectador "compreenda" a obra em sua totalidade). Mas, não sei se uma pessoa que nunca tenha visto, ou lido, ou ouvido falar sobre a obra original vá ter condições de identificar alguns signos presentes no espetáculo. Os conflitos parecem mais esboçados do que realmente apontados nesta versão. O choque entre duas culturas (ocidental e oriental), entre o masculino e o feminino, entre os personagens não acaba de se esclarecer totalmente.
Por outro lado, resulta muitíssimo interessante o trabalho de vídeo realizado (Roberto Freitas e Roberto Gorgati). Não caindo na mera ilustração e sim propondo novos significados para a obra em andamento. A entrada das mãos que, algumas vezes, parecem manipular os personagens, em outras parecem acalentá-los e noutras ainda, parecem esmagá-los nos faz encontrar mil significados e/ou possíveis leituras.
Ao mesmo tempo, a utilização espacial da Sala Lindolf Bell parece carecer de maior unidade. Não consigo fazer uma ponte entre o que é para ser "visto" e o que é "instalação/cenário". Neste campo ainda, a direção e os personagens parecem não terem delimitado claramente seus "territórios". Onde estamos em cada momento da obra? Que lugar é esse? Espaço de encontro ou guerra? Que valor assume, em cada momento, cada espaço onde as coreografias acontecem?
Vale ressaltar o trabalho interpretativo de Monica Sidler (atuando com bastante inteireza em sua participação, oferecendo uma gama de sutilezas dentro da personagem) e o carisma de Clara de Andrade (realmente um encanto em cena!).
E, o que talvez seja o mais importante, percebe-se a clareza com que o grupo se aprofunda em seu trabalho. Oferecendo um espetáculo consistente que não se deixa seduzir pelo viés fácil do exibicionismo. Um grupo que ainda deve gerar belíssimos frutos em Florianópolis.