domingo, novembro 05, 2006

Fly away, Butterfly...



Estreou dia 28 de outubro, em Florianópolis, na sala Lindolf Bell, o espetáculo Butterfly da Andras Cia. de Dança-Teatro. O espetáculo está inspirado na obra Madame Butterfly, escrita pelo americano John Luther Long em 1900. Quatro anos depois, foi adaptado para a linguagem lírica pelo italiano Giacomo Puccini. Daí em diante recebeu diversas montagens e versões pelo mundo.

Nesta montagem, de dança-teatro, não há texto falado, ou seja, não existem palavras pronunciadas pelos atores-bailarinos (Barbara Biscaro, Clara de Andrade, Juarez Nunes, Milton de Andrade, Monica Siedler e Samuel Romão) e além de ser uma espetáculo, também é uma exposição de artes plásticas contemporânea, composta por objetos cênicos (elaborados por Roberto Freitas, Roberto Gorgati e Herberth Bolaños) que envolve os participantes das apresentações.

O espetáculo dá seguimento à proposta do grupo de dar uma nova roupagem à obras clássicas (iniciada com Quixote, espetáculo premiado na Itália pela pesquisa e renovação poética sobre o tema), trabalhando nelas temas contemporâneos, atualizando-as, ou encontrando novos significados.

Por já conhecer a obra de Puccini, creio ter sido um pouco mais fácil o entendimento sobre o espetáculo (não que eu ache que o coreógrafo/diretor Milton Andrade queira que o espectador "compreenda" a obra em sua totalidade). Mas, não sei se uma pessoa que nunca tenha visto, ou lido, ou ouvido falar sobre a obra original vá ter condições de identificar alguns signos presentes no espetáculo. Os conflitos parecem mais esboçados do que realmente apontados nesta versão. O choque entre duas culturas (ocidental e oriental), entre o masculino e o feminino, entre os personagens não acaba de se esclarecer totalmente.

Por outro lado, resulta muitíssimo interessante o trabalho de vídeo realizado (Roberto Freitas e Roberto Gorgati). Não caindo na mera ilustração e sim propondo novos significados para a obra em andamento. A entrada das mãos que, algumas vezes, parecem manipular os personagens, em outras parecem acalentá-los e noutras ainda, parecem esmagá-los nos faz encontrar mil significados e/ou possíveis leituras.

Ao mesmo tempo, a utilização espacial da Sala Lindolf Bell parece carecer de maior unidade. Não consigo fazer uma ponte entre o que é para ser "visto" e o que é "instalação/cenário". Neste campo ainda, a direção e os personagens parecem não terem delimitado claramente seus "territórios". Onde estamos em cada momento da obra? Que lugar é esse? Espaço de encontro ou guerra? Que valor assume, em cada momento, cada espaço onde as coreografias acontecem?

Vale ressaltar o trabalho interpretativo de Monica Sidler (atuando com bastante inteireza em sua participação, oferecendo uma gama de sutilezas dentro da personagem) e o carisma de Clara de Andrade (realmente um encanto em cena!).

E, o que talvez seja o mais importante, percebe-se a clareza com que o grupo se aprofunda em seu trabalho. Oferecendo um espetáculo consistente que não se deixa seduzir pelo viés fácil do exibicionismo. Um grupo que ainda deve gerar belíssimos frutos em Florianópolis.