domingo, dezembro 03, 2006

1h45min enclausurada no Tédio!


Como é difícil escrever comentários (pode-se chamar de críticas, se quiser!) sobre espetáculos teatrais. Você empenha-se em não ser tendenciosa, em apontar o que, na sua opinião, são os problemas do espetáculo, em exigir um nível interessante para o que se está sendo produzido na cidade, em ser justa (se é que isso é possível!). Ao mesmo tempo, preocupa-se em não ser paternalista, em não ficar com aquele tipo de pensamento de que "tudo vale a pena", de que há que se "valorizar" o esforço dos grupo, pois afinal é muito difícil fazer arte neste país.

Assim, nesse vai e vem, corre-se o risco de ser muito dura com algumas produções e ser muito condescendente com outras. Mas, correr riscos é o mínimo que se espera de alguém que se atreve a tornar publico algo! Pois bem... nessa trajetória, quando me ponho a escrever sobre um espetáculo como Clausuras, fico meio perdida em relação à direção a seguir. Devo realmente falar tudo o que acho sobre o espetáculo? Ou devo ser condescendente, levando em conta o esforço que é construir algo nesta cidade.

Com qualquer uma das opções estarei sendo injusta! Sim, porque, se for dura (como tenho vontade) posso estar não dando valor ao trabalho de um grupo que, afinal, trabalhou meses para construir uma obra. Mas, eu não fui condescendente com alguns espetáculos que já comentei neste espaço e, sendo assim, algumas pessoas podem achar que este espetáculo está no mesmo nível de outros, tais como F, A Casa Tomada e Buterfly, que conseguem uma elaboração muito mais apurada sobre seus trabalhos. O que não é o caso.
Bom, vamos partir do princípio de que tenho respeito pelos artistas de teatro de Florianópolis (muitíssimo respeito!) e de que todas as observações constantes nesse Blog nascem desse respeito e da vontade de discutir o trabalho teatral, contribuindo, acredito eu, para o que está sendo produzido aqui.

Sendo assim, não posso me privar de fazer algumas observações sobre Projeto A: Clausuras que o Teatro Artesãos de Dioníso - Coletivo de Pesquisa e Atuação Cênica está apresentando na sede do Instituto Arco-Íris, aos sábados e domingos, até o dia 17 deste mês.

O espetáculo começa com a recepção do público, sendo convidado a participar como visitante deste local, que aos poucos nos vai sendo apresentado como uma instituição psiquiátrica. De uma maneira fragmentada nos vai sendo apresentado diversos aspectos sobre a loucura, até que se começa a falar sobre a vida de Camille Claudel, passando por um discurso de Nijinsk. Bom, só pela sinopse, já dá pra notar que não é um trabalho fácil o que é proposto pelo grupo.

Mas, aí é que começa o problema! O material é extremamente fragmentado, logo necessita-se de uma, no mínimo, direção ou orientação para que o espectador vá organizando alguns elementos dentro da sua cabeça. Mas, os fragmentos não se encaixam. As imagens são difusas. E clichês, existem muitos clichês, um amontoado de clichês sobre a loucura, a arte e o ânus. E logo a gente começa a se perguntar: O que eu estou fazendo aqui? Porque esse cara está lavando meus pés? porque eu já ví várias dessas idéias em espetáculos de grupos experimentais? Porque? Porque? Porque?

A produção é, no todo, mal acabada. Os figurinos não são pensados, são apenas roupas, tomada de aqui e ali e colocadas em cena. O cenário não é funcional, inclusive num determinado momento do espetáculo foi utilizado de maneira bruta com o público. A iluminação é uma idéia funcional, que em alguns momentos resulta eficiente criando belos climas, inclusive demonstrando que a criatividade ainda é a melhor forma de combater a falta de orçamento, mas deixar o elenco no escuro numa cena de uns 10 minutos, com um spot iluminando o vazio, não parece ser uma boa idéia. E o espetáculo vai acumulando esses dilentantismos, um atrás do outro.

O elenco (não encontrei os nomes em nenhum lugar para poder citá-los, como sempre faço) se esforça pra realizar um trabalho visceral mas, como em todo o espetáculo, percebe-se o desejo e a falta de ferramentas para realizá-lo. A direção (coletiva? de quem?) não parece saber pra onde o espetáculo deve caminhar. Várias convenções são criadas e, no momento seguinte, deixam de valer. Mas isto não parece ser intencional. Não é um jogo dialético. Não é um jogo metafísico. É um jogo onde as regras não parecem estar claras, nem para os jogadores, nem para o público. E daí, só nos resta o tédio.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sara, sei de várias pessoas (amigos meus) que entram no seu blog. Eu, inclusive. Não sei porque não escrevem comentários (eu inclusive). Mas não desista, está muito interessante. Abraço.

Anônimo disse...

Você não gostou simplesmente ou não entendeu nada?
tédio? quando