segunda-feira, outubro 20, 2008

Crônica publicada no DC (15/10/08)

O papel da crítica

Em fevereiro de 1980 foi publicado por aqui o artigo O crítico papel da crítica. As epígrafes saíram do então Novo Dicionário Aurélio:

"Crítico. Adj. Grave, perigoso. Embaraçoso, difícil, perigoso."

"Crítica. S.f. Arte ou faculdade de julgar produções de caráter literário, artístico ou científico, ou outras manifestações dessa natureza. Juízo crítico; discernimento, critério."

Prosseguia o texto, após citar um duelo a floretes:

"Trocando em miúdos: a função da crítica é julgar produções de caráter literário com discernimento, critério. O objeto da crítica é pura e tão-somente a obra; o criticado é o livro, e não o autor. Daí porque não faz sentido alguém se julgar pessoalmente (ou até moralmente) ofendido por um juízo não muito favorável a um trabalho seu - são contingências inerentes a quem se expõe publicamente ao editar alguma obra. E se a crítica adversa e justa não sair em letra de forma, sairá ao menos oralmente, de boca em boca.

Por outro lado, se à crítica falecerem seus atributos indispensáveis de discernimento e critério, sosseguem, pois não terá havido crítica, apenas um amontoado de mesquinharias - ou de aplausos ocos e risíveis, conforme o caso.

O fato é que os escritores costumam detestar opiniões desfavoráveis a seus livros, contos, poemas ou crônicas, enquanto os críticos temem comprar a inimizade dos autores se forem muito sinceros no que têm a dizer. E chega-se assim à situação atual em Santa Catarina, com pouquíssimos críticos militantes a transmitirem a imagem de uma invejável uniformidade na produção literária que se faz no estado. Não há referências marcantes, tudo o que se publica apresenta diversos pontos positivos dignos de nota - e nunca se ressaltam eventuais e inevitáveis traições às nobres e boas intenções do autor.

A crítica, parece-nos, só pode ser útil no momento em que analisar uma obra, qualquer obra, de uma forma global, com seus prós e contras. Ademais, seria no mínimo excesso de pretensão do crítico imaginar que sua apreciação será definitiva, condenando ou glorificando inapelavelmente obra e autor.

O que parece necessário observar é o papel fundamental da crítica para o bom desenvolvimento de uma literatura. Ideal seria se houvesse mais críticos a analisar a quantidade do que se produz em SC, inclusive até com opiniões divergentes sobre determinada obra."

O que mudou em 28 anos?

(Amilcar Neves, escritor)

2 comentários:

Rodrigo Monteiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Chris disse...

Olá, li uma entrevista tua no Jornal do Jornalismo, feita pelo Daniel Ludwich. A matéria foi publicada agora em novembro de 2009. Peguei o jornal ontem na UFSC.
Menina, adorei teus textos! Isso do povo do teatro não ir ao teatro é verdade só que eles não assumem a hipocrisia. E olha que horror, um diretor de teatro xingando teus textos daquele jeito.
Eu só te conheci agora, mas já sinto tua falta.
Moro na grande Florianópolis e tento escrever umas coisas que me passam pela cabeça.
Desejo muito ter te incentivado a voltar a escrever.
Ah, e como acontece muito no twitter, quem a gente é ou deixa de ser não importa tanto. As ideias valem mais.
Abraço,
Chris