sábado, maio 12, 2007

Sobre o exercício da crítica e do criticado.



Muitas pessoas me perguntam qual o motivo de permanecer "anônima" enquanto estou mantendo um Blog e um Fotolog que faz comentários sobre os espetáculos que assisto na cidade de Florianópolis. Algumas vezes esta pergunta vem como um questionamento mesmo, noutras com um sentimento de desaprovação e já houveram casos que o interlocutor compreendia esta "estratégia".

Nesta semana que passou reafirmei a minha compreensão sobre a cidade e o meu intuito de continuar no anônimato. Das mais de 100 (cem) visitas recebidas em ambas as páginas, apenas 02 (duas) se detiveram a escrever algo que estava, de alguma maneira, relacionada com o comentário. Vários dos visitantes simplesmente passaram , leram e seguiram o seu caminho (o que, pelo menos, é uma opção clara). Houve uma quantidade imensa que não ficou satisfeita com o comentário e resolveu se "pronunciar". Ótimo, este é mesmo o objetivo desses espaços. Mas, ao invés de discordar, discutir e debater, resolveram xingar, ameaçar e exercer o livre direito de não contribuir com nada.

Houve muitas críticas quanto a qualidade da escrita, sem no entanto propor nenhum tipo de alternativa. Houve muitas críticas a qualidade do meu "português", sem no entanto estarem escritas em um "razoável" português. Houve muitíssimas críticas em relação ao meu anônimato, sem no entanto terem sido feitas por pessoas reais, mas sim por "curioso", "resposta ao curioso", "eu sei quem vc é", entre outros.

No cabeçalho do Blog (que se repete no fotolog com pequenas modificações) está descrito com bastante exatidão à que se propõe o mesmo: "Este blog foi criado como um espaço de reflexão sobre o fazer teatral. Para pensar sobre os espetáculos de artes cênicas vistos por esta que vos escreve, sem nenhuma metodologia de escolha ou análise... por sorte ou azar. Contém a descrição de minhas sensações em relação ao que tive acesso. São pequenas resenhas, que contém opiniões pessoais! Sem impor verdades! Está aberto à questionamentos e críticas. Será um prazer dividí-lo com vocês."

* Os grifos foram colocados nesta reprodução do texto para tentar deixar mais claro ainda minhas intenções quando da criação do mesmo.

Não há nenhum compromisso acadêmico de minha parte ao escrever estes comentários (por isso, não estou preocupada com estrutura pré-requisitos, citações, etc). Eu realmente não sabia que escrevia, segundo dizem, um português tão ruim. Eu tento escrever os comentários logo após assistir aos espetáculos e talvez por esta razão alguns comentários vêm com alguma certa "paixão". Eu, sinceramente, tento não ser tendenciosa ao escrevê-los. Embora acredite que é impossível não deixar meu gosto pessoal interferir na minha escala de valores sobre um ou outro espetáculo. Sempre tento levantar pontos positivos e pontos negativos de cada espetáculo. Respeito ao trabalho dos grupos tem sido a palavra chave do meu trabalho.

Por outro lado, com excessão de Jefferson Bittencourt, nenhum outro diretor de teatro ou participante de alguns espetáculo comentado se interessou em discutir o que estava escrito. Alguns se limitaram a agradecer o comentário, outros, nem isso. Porque?

Se podemos dizer que o "crítico" (o que não é o meu caso, pois não tenho formação para tal) é um artista frustado, que se mantém alimentado por causar a "desgraça" alheia, destilando sua incompetência sobre o pobre artista e causando polêmicas para inflar o próprio ego; também podemos dizer o artista é um egocêntrico incurável, que não admite discutir sua obra de arte perfeita e irretocável, que não admite críticas porque elas foram feitas no sentido de tolher sua expressividade e a manifestação mais íntima de sua genialidade.

Por favor: Vamos deixar os clichês de lado!

Assim como a minha escrita pode melhorar (e muito!), também podem os espetáculos produzidos em Florianópolis e Santa Catarina evoluírem em muitos sentidos. Podem e devem deixar de ser permissivos com seu processo e sua construção. Podem e devem ser revistos após sua estréia. Não porque "Eu" disse isso, mas porque é o caminho natural do encontro com o público. O espetáculo só é realmente testado quando encontra a resposta do público. Só encontra seu sentido quando é realizado perante seus espectadores à cada apresentação. E nem todos os espectadores vão gostar completamente do seu espetáculo! Assim como nem todas as pessoas gostam do que eu escrevo.

Num mundo tão marcado pela violência e pela falta de sentido, não seriam os artistas os que primeiro deveriam tentar encontrar uma resposta para o que está acontecendo? Não seriam os artistas os primeiros a tentar deixar de ser intransigentes e buscar o diálogo sobre todas as coisas? Qual o papel do artista, afinal? Ficar se debatendo por picuinhas e "anônimatos" eu tenho certeza que não é!

6 comentários:

Anônimo disse...

Sara,
"Houveram muitas críticas quanto a qualidade da escrita, sem no entanto propor nenhum tipo de alternativa."

O verbo 'houve' neste caso [com sentido de existir] é impessoal e invariável e deve permanecer no singular.

Abraços,
Lucian

Anônimo disse...

Acho que seus comentários, antes mesmo de ajudarem o público em geral, favorecem aos agentes teatrais da cidade.
Sou seu leitor, e costumo usar seus comentários como um contraponto aos meus e de meus amigos.
Compreendo o sentido de seu anonimato, e acredito que deve mantê-lo. Não sinto vontade de saber quem você é, mas sim o quanto são produtivas suas reflexões (e continuam sendo)...
Espero que isso lhe instigue a continuar, pensar, quem sabe fazer, discutir e, por favor, assistir teatro, já que sofremos por falta de público...

(não me identifico, porque meu nome é um pouco conhecido no meio, e as questões levantadas aqui são mais importantes que os nomes)

Frente em Defesa da Cultura Catarinense disse...

sara,

tenho vontade de lhe conhecer.. mas acho que deves permanecer anonima sim... leio seu blog sempre que posso... eu tb tenho um.... visite.. abraços e continue com o blog!

Sara Kane disse...

Daniel Olivetto [www.chicolinguica.blogspot.com] @ 2007-05-12 12:06 disse :

Então... fazer crítica é um negócio complicado mesmo, e tomar pra este espaço uma estrutura acadêmica é algo que talvez não combine com ele. Nunca vi problemas de portugues por aqui, e acho este espaço muito importante pra se discutir teatro. Acho que este tipo de discussão é mesmo muito pobre por aqui (na Ilha), e as poucas iniciativas que existem são minadas por egos e estas coisas tão comuns à classe teatral.

Quanto ao seu anonimato, acho ele interessante. Volta e meia quando estamos em cartaz alguém brinca no camarim: "Será que a Sara Kane está na platéia?!".

Acho que os espaços como blogs e fotologs tem servido pra socializar, mais que informações, depoimentos, percepções e tal. E acho que o espaço aqui cumpre essa função mesmo.

Não sei se ele funcionaria bem pra discutir espetáculos a fundo. E até faço já a "mea culpa" por não ter discutido de fato o espetáculo (Hagënbeck, neste caso) mas lembro de ter iniciado algumas discussões (inclusive sobre os espetáculos do Isnard) que nem sempre dão continuidade. Aí o espaço não ganha essa força de um fórum, ou algo assim.

Enfim, vamos falando mais... estou sem flog, mas acima tem o endereço do meu Blog, que não discute teatro mas pode servir pra discussõs sobre isso sim.

abração

Anônimo disse...

Sara...

Acho maravilhoso este espaço de reflexão sobre o teatro catarinense, sempre visito seu site leio as críticas, e comento com os grupos que tenho mais contato sobre suas reflexões.
Seu anonimato para mim é fascinante me lembra muito Nelson Rodrigues com sua “Suzana Flag”, acho de um bom gosto audaz, e tenho sim minhas suspeitas que para mim vira uma brincadeira de adivinhações, que não superam minha admiração pela sua iniciativa em escrever sobre o nosso teatro (embora não tenha comentado ainda sobre algum trabalho de nossa Cia.)
Espero sim que sejas forte e supere estes medíocres críticos, já disse e repito sou sua fã.
Somos tão carentes de respostas sobre o fazer teatral, dificilmente nos reunimos como artistas, não temos uma organização sindical participativa nem nos organizamos para defender nossos interesses, a não ser em defesa de medidas urgentes governamentais que não passam de uma pequena manifestação com poucos.
Siga em frente Sara, vejo bons frutos nascidos de sua iniciativa.

Anônimo disse...

Cara,
Nunca tomei a iniciativa de escrever algo sobre seu comentário de Desvio, do ERRO Grupo, pois, como você pode ler (http://momento-critico.blogspot.com/2006/10/perdida-no-desvio.html), o que você escreveu realmente não está aberto ao diálogo, é danoso e obviamente acrescenta bulhufas. Além disso, o grupo até percebeu uma espécie de raiva embutida nas palavras, outros grupos receberam um tratamento respeitoso com seus trabalhos e pesquisa. Inclusive acho que você desrespeitou o trabalho do ERRO e do Desvio, diferente do que você afirma no texto: “Sempre tento levantar pontos positivos e pontos negativos de cada espetáculo. Respeito ao trabalho dos grupos tem sido a palavra chave do meu trabalho.” Portanto, não achei que uma conversa entre eu e você pudesse ser produtiva.
Quero deixar claro que acesso seu blog algumas vezes, leio os comentários e percebo que você está se aprimorando, assim como o ERRO está. Não fique tão nervosa com os comentários ruins sobre você e seu blog, coma um cachorro quente e relaxe. Quando uma pessoa se coloca diante de um público e o questiona deve estar preparada para receber todos os tipos de respostas.
Abraços
Pedro Bennaton – ERRO Grupo
PS: Obrigado por colocar o link do site do ERRO em seu blog. Só que o endereço não está correto.