domingo, maio 06, 2007

O Rouxinol Infantil


Não é de hoje que os artistas de Teatro têm levantado vários questionamentos sobre a qualidade dos espetáculos voltado à um público específico: as crianças. Vários movimentos têm sido feito no sentido de discutir a produção realizada no país, desde a criação de festivais e mostras voltadas exclusivamente para as crianças (corrente da qual o Festival Isnard Azevedo deste ano destoou completamente!), até a não utilização do adjetivo "infantil" que acabou virando um termo que, as vezes, soa pejorativo. O dicionário Aurélio coloca o termo infantil, entre outras coisas, como sinônimo de ingênuo, simples e tolo. Não é a toa que os artistas têm preferido utilizar os termos "infância", "para crianças" e "juventude". Longe de querer parecer ser politicamente correta, acredito que a mudança desta nomenclatura busca querer traduzir uma mudança de comportamento em relação à produção voltada para os pequenos. Uma produção que, hoje em dia, não é mais vista somente como um passo para o aprendizado do ator amador, que estaria aprendendoa atuar no teatro infantil para depois fazer Teatro de verdade para os adultos.

Como essa ainda não é uma prática tão amplamente discutida, nem uma regra, não me preocupei quando encontrei o termo infantil na divulgação do espetáculo O Rouxinol do Imperador, em cartaz no Teatro da Ubro, as 16h, até o próximo final de semana com o grupo A Patota do Teatro.

O espetáculo é um reconto do original de Hans Christian Andersen com toques de meta-teatro, onde dois contadores (Gustavo Bierberbach e Mariana Coral) são auxiliados por um Mestre (Cacá Corrêa, também diretor do espetáculo) para levar adiante a história de um Imperador Chinês intrigado com a existência de um tesouro que ele não conhece em suas terras. Assim que ele se dá conta da beleza do Rouxinol encanta-se, mas logo troca o verdadeiro por um artificial recebido de presente do Imperador Japonês. Quando o brinquedo novo estraga-se, o Imperador dá valor ao Rouxinol verdadeiro.

A concepção do espetáculo está apoiada nesta influência chinesa. Toda a cenografia (assinada pelo grupo), a trilha sonora (Jack Moa) e o figurino (Zazá Corrêa) são coerentes com a idéia central da montagem. O espetáculo recebe um acabamento profissional em todas as áreas e linguagens pela qual se aventura, com excessão, talvez, das formas animadas que poderiam ganhar em expressividade e maior apuro na manipulação. O elenco masculino demonstra ter bastante energia e conhecimento sobre como se colocar em cena.

Eu poderia ficar falando bastante tempo sobre as qualidades e os pequenos detalhes a serem revistos no trabalho, mas, e infelizmente há um imenso "mas", sou obrigada a me ater à algo que talvez faça com que todo o trabalho anterior tenha sido uma grande perda de tempo: a visão sobre o infantil!

O espetáculo peca gravemente numa visão equivocada sobre a criança. Impõe uma maneira estereotipada de interpretar de maneira infantilizada e acaba caindo em vários clichês já bastantes conhecidos de quem costuma frequentar o teatro feito para crianças no Brasil. Ao mesmo tempo em que os textos ditos pelo Mestre indicam equívocos na contação dos discípulos, esses equívocos aparecem com força total na direção do espetáculo. Excesso de movimentação com pouco sentido, uma certa histeria na interpretação dos discípulos, excesso de informação verbal, falta de limpeza na cena são algumas das armadilhas nas quais facilmente se cai neste tipo de trabalho.

O espetáculo devia confiar mais na inteligência das crianças, assim como confia no momento em que realiza com elas a dobradura de papel. Mais ensaios na parte final do espetáculo também o deixariam mais ágil, não deixando com que nos dispersemos na parte mais interessante do trabalho.

Da forma como está este Rouxinol acaba nos parecendo muito infantil, no mal sentido.


* foto retirada do site www.hagah.com.br

2 comentários:

Frente em Defesa da Cultura Catarinense disse...

pela própria foto de divulgação do espetáculo, nota-se que o espetáculo não teria nada a acrescentar ao universo das crianças....

Anônimo disse...

Querida Frente em Defesa da Cultura Cararinense: Gostaria que "vossa senhoria" assistisse ao espetáculo, antes que expressasse quaisquer opiniões sobre ele. Atenciosamente, Gustavo Bieberbach.