segunda-feira, abril 16, 2007

OTIMISMO!

Um balanço pessoal do Festival Isnard Azevedo.

Após dois dias do término do Floripa Teatro, ainda estou me refazendo fisicamente e mentalmente da maratona que foram esses oito dias. Dos 33 espetáculos anunciados, 02 foram cancelados, 06 eu perdi e 25 eu assistí. Um média de 03 espetáculos por dia. Ufffa!

Se, numéricamente esta edição superou a edição de 2005, o mesmo se pode dizer da qualidade dos espetáculos. Saiu-se bastante menos enfadado dos espetáculos neste ano do que daquela edição. E o festival foi para as ruas, para as escolas, passou a interferir um pouco mais no cotidiano da cidade. É um festival ideal? Ainda não, e creio que nunca será. Afinal, sempre teremos coisas nas quais poderemos dar sugestões e buscar torná-las mais interessantes. E talvez esse seja um dos principais passos a ser dados pela organização: entender que um festival de teatro é um organismo vivo, que talvez tenha que ser re-formatado a cada ano, de acordo com as necessidades da cidade e com produção teatral do país. Desistir de uma vez desse formato competitivo retrógrado que, em muitos casos, afasta algumas companhias profissionais qualificadas.

Por exemplo: um das coisas que não consegui entender neste ano foi a não utilização do Teatro Álvaro de Carvalho. Alguns dos espetáculos da Mostra "Oficial" ficariam muito melhor se mostrados alí. Imagino que alguns grupo iriam preferir apresentar-se em duas sessões do que utilizar o palco do CIC. Talvez uma maior flexibilidade por parte da montagem das grades de apresentações poderia contribuir bastante para um formato mais abrangente de festival.

Outra coisa que não parece contribuir muito é o debate. Parece servir apenas, em alguns casos, como um muro de lamentações para justificar o que não funcionou durante a apresentação, e em outros como um espaço para jogar confeti sobre o elenco que se saiu bem. Pouca coisa foi realmente aproveitável nos debates. Talvez um espaço, num outro horário, numa sala menor, com vários grupos presentes possa trazer informações mais interessantes para quem está assistindo.

Um outro ponto é a ausência de uma mostra dedicada exclusivamente para o teatro para Crianças. A presença de espetáculos para esse público em outras mostras não justifica a ausência da mesma. O festival parece mandar um recado, equivocado, de que este tipo de teatro não é importante para ser discutido, quando a maioria dos grandes festivais do país está se abrindo cada vez mais para ter um espaço privilegiado para os pequenos.

Mas, voltando aos espetáculos, ainda que percebamos uma melhora de qualidade, se compararmos com a edição de 2005, ainda existe uma desigualdade muito grande nos trabalhos apresentados. Se tivemos trabalhos em que era perceptível a pesquisa ou uma proposta clara (A Sombrancelha é o Bigode do Olho - Uma conferência do Barão de Itararé; Sobre Anjos e Grilos; Crimes Delicados; Nem Mesmo a Chuva Tem as Mãos tão Pequenas; ...E o Céu Uniu Dois Corações; Calendário da Pedra), houveram também trabalhos que estavam muito aquém das expectativas ou ainda no espaço equivocado para sua apresentação (A Casa; O Hipnotizador de Jacarés; Casa Verde; Caio Transbordado). A presença maciça de espetáculos ligados ao humor, principalmente clownesco, também pareceu tirar um pouco do caráter de diversidade, visto que o festival nunca se apresentou como "temático".

É verdade que essas diferenças de nível não são uma exclusividade do Isnard Azevedo, mesmo festivais maiores como o de Curitiba e o Porto Alegre em Cena apresentam este mesmo problema, mas com uma diferença: estes festivais não são competitivos e se ocupam em realizar uma amostragem das tendências do teatro brasileiro. Talvez o Floripa Teatro tenha que para pra pensar e decidir à que realmente se propõe. Decidido isto, muitas perguntas e respostas chegarão. E muitas críticas perderão a validade.

O primeiro passo parece ter sido dado: Acordar o festival do imenso marasmo em que ele estava submetido. O que virá agora, só o tempo e a Fundação Franklin Cascaes, dirão. Vamos lá, OTIMISMO!!!


* Foto: Vicente Maia / WEBCLIX

Nenhum comentário: