segunda-feira, outubro 16, 2006

Recentemente, esteve se apresentando no Teatro do SESC Prainha, o espetáculo teatral "Bengala", solo do ator Néstor Navarria que realizou pequena turnê em Santa Catarina com apoio do Grupo Teatro em Trâmite (de Fpolis, SC). O espetáculo realizou apresentações também na cidade de Joinville e Blumenau.

"Bengala" nos conta a história de um boxeador, já não tão jovem, que tem a chance de realizar uma última luta para tentar revitalizar sua carreira. Tendo esta situação como ponto de partida, o brilhante texto assinado por Alfredo Megna (dramaturgo já conhecido no estado por realizar algumas parcerias com grupos daqui, entre eles, a Cia. Carona de Blumenau) discorre sobre fatos da vida deste mesmo boxeador, de seu relacionamento com sua esposa que acaba de abandoná-lo, das relações com o médico da federação de boxe, do programador das lutas, da moça que passa com as placas dos rounds... ou seja, de toda uma complexidade de situações que formam aquilo que chamamos "realidade".

No palco nú, Néstor é o responsável por nos fazer acreditar em toda essa complexidade! Um figurino simples (um traje de boxeador tradicional, com as botas, luvas, etc.), uma toalha, um banquinho e uma garrafa de água são todos os elementos que o ator tem para nos convencer (e ele consegue!) que uma luta está ocorrendo alí. Uma luta de boxe? Ou uma luta de um indivíduo com o tempo? Um indivíduo que se nega a ser despejado da cadeia produtiva da sociedade; que se nega a abandonar seus sonhos.

Que interessante pode ser essa possibilidade de trabalhar sem nenhum elemento extra que não seja o trabalho do ator... mas, ao mesmo tempo, fico me perguntando que potência não poderia assumir este trabalho se os diretores Leonardo Odierna e Armando Saire oferecessem ao espectadores um pouco mais do clima da luta ou, quem sabe, elementos que ajudassem o ator a não ter que arcar com todo o trabalho sozinho. Talvez alguns elementos resolvessem pequenas quedas do ritmo do espetáculo. Ou talvez, ainda, uma sonoplastia um pouco mais elaborada.

Talvez, talvez, talvez...

Um outro ponto que merece registro é a opção quase que melodramática da encenação... ou será que isso tem mais a ver com a "alma" tangueira dos argentinos? Sim, pois é bastante comum em obras latino-americanas um certo discurso de "vítimas" da situação. Não é a toa que Néstor (e o espetáculo) se sai muito melhor nos momentos mais cômicos e irônicos. Sim, pois o humor destes argentinos não é nem um pouco apelativo, como se costuma ver em muitas produções no Brasil. É um humor que aprofunda a dor na alma das personagens e, em conseguência, em nós mesmos... espelhos de algo que "poderia se tornar..." e não é! De alguém que "esteve à ponto de..." e não foi. De uma "iluminação" que talvez só nos chegue no dia de nossa morte. Mas, se for para morrer dessa maneira, morrerei feliz, entendendo um pouco mais da vida e de mim mesmo!

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei a iniciativa!
Ótimo espaço para a discussão de idéias e do fazer teatral! Isso é o que importa!
Vou acompanhar sempre!!!