sábado, outubro 14, 2006

Uma enxurrada de metáforas!


Re-estreou na cidade, no Teatro da Ubro, cumprindo temporada até o final de outubro, o espetáculo “F” da Persona Cia. de Teatro.

Premiado em vários festivais de Teatro do país, foi o primeiro trabalho da Cia, em busca de sua profissionalização. Não há possibilidade de pensar sobre este espetáculo ignorando a trajetória dos “personas”, ou seja, sem deixar de levar em conta os espetáculos que o sucederam.

F” é um espetáculo que trata das fragilidades humanas. De inspiração claramente Kafkiana, explora uma pesquisa sobre o expressionismo, tratando de personagens freaks, esquisitos, deformados, estranhos... ou seja... um mundo mais ou menos parecido com o nosso, só que colocado sob uma lente de aumento.

Todo o tratamento visual do espetáculo é impecável. Iluminação (de Jefferson Bittencourt), cenário (de Roberto Gorgati, criado a partir dos mínimos recursos, deixando somente o estritamente necessário na cena) e figurinos (de Gláucia Grígolo) estão completamente de acordo com a proposta do grupo.

A escolha da sonoplastia (de Jefferson Bittencourt, novamente) é belíssima, só cabendo aí uma pequena pergunta: Não há um descompasso entre a altura da trilha em comparação com a voz dos atores? (Pelo menos parecia haver no primeiro final de semana, quando assisti ao espetáculo.) E talvez nesta questão esteja uma das fragilidades do espetáculo. A qualidade de emissão vocal do elenco é desigual, o que nos faz perder em alguns momentos parte do texto que está sendo dito.

Fica claro que o elenco (Melissa Pretto, Gláucia Grígolo, Igor Lima e Malcon Jean Bauer) está afinado com a proposta da encenação, mas isso naum significa que consigam dar "carne" à "enxurrada de metáforas" proposta por Rogério Christofoletti. O texto parece carecer de maior complexidade para os personagens. Nesse sentido se saem melhor Gláucia (com uma competente contenção) e Malcon (que tem nas quebras irônicas de seu personagem uma grande oportunidade para demostrar maior versatilidade).

Entra aqui a colocação acima sobre não poder ignorar as montagens que sucederam "F" realizadas pelos "personas". Após ter assistido "Nem mesmo a chuva tem mãos tão pequenas" percebe-se claramente que o grupo consegue ser mais contundente quando tem um material dramatúrgico mais sólido nas mãos. Mas isso, talvez, já seja motivo para um outro texto que poderá ser postado aqui neste Blog, assim que reassistir o espetáculo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Legal...só não entendi um aspecto...quando voc~e diz que há uma 'exurrada de metáforas'....o texto carece de profundidade ou há metáforas demais que os atores não dão conta?..é isso...beijos e parabéns pela iniciativa...adoro críticas e conversar sobre o que escrevem sobre meus espetáculos...até mais...(e fico no aguardo da resposta que pode ser pelo orkut tambémn ,viu?)eheh

Gilbas Piva disse...

adorei a ideia desse blog Sara, ja adicionei a favoritos pra poder acessar sempre. tomara possas escrever sobre algum trabalho meu futuramente. em novembro começa a mostra da disciplina de encenaçao da udesc, apesar de muitos trabalhos nao pretenderem ir a publico por nao se tratar de obras profissionais, é importante aos alunos (a maioria diretores de primeira viagem)ouvir opinioes e impressoes. se puderes acompanhe. parabens pela iniciativa.

Sara Kane disse...

Então.... respondendo ao Jefferson:

Acho que uma coisa está relacionada à outra!!! Mas, ainda assim, acredito que se o texto oferecesse mais profundidade seria mais fácil para os atores poderem "circular" melhor pelos personagens...

Quando falo em profundidade, estou falando mais em complexidade... mais conflitos internos. Por exemplo: acho o personagem "F" um pouco bi-dimensional. Um rato, medroso.... qual é a fúria que esse personagem esconde?

Não é uma crítica ao Igor (acho ele muito talentoso!!!)... acho que o problema maior é do texto... ou, no caso, se o texto não oferece situações mais complexas.... de que maneira vc e o ator podem criar essas entrelinhas, em ações e reações?

Acho que é isso... espero ter me feito entender....

Brigadão ao Jefferson pela oportunidade de diálogo!