sexta-feira, abril 13, 2007

Circo, Palhaços e Um Sopro de Contemporâneidade!

A estética circense parece ter tomado o festival Isnard Azevedo de assalto. Por todo lado que se olha tem um palhaço ou um picadeiro pronto para se encontrar com você. Resta saber se esse é o verdadeiro panorama do Teatro Brasileiro ou se foi uma casualidade tantos grupos que trabalham com esta linguagem estarem participando do festival. Até o final da semana ainda teremos a chance de ver mais espetáculos com clowns, o que faz com que, talvez, alguns espetáculos saiam prejudicados no saldo de meus comentários. Ora, quanto mais a quantidade de oferta, maior o nível de exigência e, até o momento, nenhum espetáculo desta linguagem apresentou um grande diferencial.


Nossa ida ao circo começou na Mostra Cena Aberta com A Farsa do Mestre Pathelin, vindo de Joinville, SC o espetáculo da Dionisos Teatro coloca em cena uma das farsas que, acredito eu, deva ser um dos textos mais montados no teatro. A direção de Silvestre Ferreira coloca o espetáculo, arbitrariamente, em uma estética circense, trazendo os elementos mambembes à cena. A história todos devem conhecer e trata da antiga máxima de "ladrão que rouba ladrão", infelizmente pratica bastante atual. Como destaque no elenco aparece o carisma de Clarice Steil Siewert que junto com Andréia Malena Rocha, Eduardo Campos e Hélio Muniz se aplicam para dialogar com o público. O trabalho musical se insinua como algo que poderia resultar interessante, mas parece ficar no meio do caminho.


Chego, então ao Largo da Alfândega e já encontro o picadeiro montado para O Hipnotizador de Jacarés, espetáculo do Circo Girassol, o último de Porto Alegre, RS a se apresentar na Mostra de Rua nesta edição do festival.
Na minha opinião, esse espetáculo não foi concebido para a rua e isso não necessariamente tem a ver com a utilização de uma formação para palco italiano. Tem a ver com a maneira como os atores (Débora Rodrigues, Heinz Limaverde, e com destaque para Tuta Camargo) jogam e se utilizam do fenômeno da rua ou, no caso, não se utilizam. Os personagens estão muito bem montados, de acordo com os preceitos das gags dos palhaços tradicionais. A produção do espetáculo é primorosa. Figurinos, direção de arte (ambos de Daniel Lion) e cenografia (de Marco Fronkoviack e Dilmar Messias, que também dirige o espetáculo) são perfeitos e irretocáveis. Mas, o timing do espetáculo parece não se adequar com o espaço e uma já conhecida sensação de "mais do mesmo" nos retorna durante toda a apresentação.


E assim, ávidos por algo distinto chegamos à apresentação na mostra oficial de Sobre Anjos e Grilos - O Universo de Mario Quintana, espetáculo multimídia vindo de Porto Alegre, RS com a Companhia de Solos & Bem Acompanhados.

E, na minha opinião, temos enfim um pequeno sopro de contemporâneidade no Isnard Azevedo deste ano. Aspecto este que advem muito menos da utilização das projeções, imagens e mais pelo caráter de experimentalidade do projeto. A busca de uma abordagem mais próxima do performático da atriz Deborah Finocchiaro, que em alguns momentos lembra Denise Stoklos em cena, não pela forma, mas sim pela postura criadora. Talvez pudéssemos questionar se a direção de Jessé Oliveira e Deborah Finocchiaro não se torna um pouco inventiva e excessiva demais, suplantando o poeta. Mas, ao meu ver, a poesia e a postura libertária, quase anarquista, de Mario Quintana dão essa permissão. A essência do poeta está ali, sem o ranço da declamação que, com certeza, deixaria o espetáculo enfadonho. Outro ponto a ser destacado é a beleza das imagens produzidas por Zoravia Bettiol. Verdadeiros achados pela beleza do traço e pela capacidade de síntese de vários elementos encontrados na obra do poeta. Alguns poemas, mesmo que não estejam sendo ditos na cena, aparecem, quase que arrancados de nosso inconsciente, por estas belíssimas imagens.

Talvez, se o festival estivesse oferecendo uma maior diversidade de linguagens, este espetáculo não teria esse caráter tão distinto. No Isnard Azevedo deste ano, pareceu um copo de água no meio do deserto.


* fotos retiradas do site
www.floripateatro.com.br .

2 comentários:

Anônimo disse...

acho louvável a sua iniciativa de iniciar um blog de crítica teatral.
mas me decepciona ver que alguém que utiliza o pseudônimo 'Sarah Kane' posso ter visto um cisco sequer de contemporaneidade no amontoado de clichês que foi o espetáculo 'Sobre Anjos e Grilos - O Universo de Mario Quintana'.
Houveram de fato alguns momentos interessantes no uso da projeção, mas absolutamente perdidos em meio a mediocridade geral do espetáculo.
propostas como a do espetáculo: 'Das Saborosas Aventuras de Dom Quixote de La Mancha e seu Fiel Escudeiro Sancho Pança – Uma História que Poderia Ter Sido', esbarram em questões muito mais contemporâneas ao repensar a relação com o público, o espaço cênico, além do uso diferenciado da teatralidade, por vezes confundindo-a com o real e por vezes dissolvendo-a numa tentativa de trazer a cena algo além do trivial.

Unknown disse...

Assisti este Espetáculo em aqui em Porto Alegre,e simplesmente adorei!Admiro o trabalho da Deborah Finocchiaro,inclusive ja assisti a outros trabalhos dessa maravilhosa Atriz!Concordo quando vc diz que ela lembra a Denise!Um abraço!E adorei o blog!!!!