terça-feira, abril 10, 2007

Começa a Maratona e, até que enfim, um pouco de humor instigante.

O Festival de Teatro de Florianópolis Isnard Azevedo abriu na noite de sábado, mas a maratona começou nesta segunda-feira. Com a ampliação da quantidade de mostras, implantada este ano, é necessário fazer um grande malabarismo para poder, pelo menos, tentar assistir ao maior número de espetáculos participantes. Amplia-se a diversidade e quem sai ganhando é o público com a grande variedades de opção. Se bem que, até agora o festival parece ter optado por uma cartilha mais voltada ao humor, nas suas mais variadas formas.


Comecei meu dia teatral com a abertura da Mostra de Teatro de Rua, assistindo ao espetáculo A Revolução dos Bichos da Cia. 4 Produções, de Porto Alegre, RS. Ao contrário de Florianópolis, a capital gaúcha tem uma grande tradição de espetáculos para a rua, já tendo inclusive, participado de inúmeras edições do Isnard Azevedo, assim como de festivais e mostras em todo o Brasil.

O espetáculo dirigido por Arlete Cunha (que também atua) optou por realizar sua apresentação fora da lona montada pela organização do festival, mantendo-se na tradição de interagir no cotidiano da cidade para contar a história (adaptada do romance homônimo de George Orwell, de 1945) de uma revolução realizada pelos bichos de uma fazenda, lideradas pelos porcos. Porém, logo as disputas de poder, as explorações dos bichos pelos próprios bichos ameaçam o ideal do Estado Igualitário. A produção do espetáculo é bem esmerada, com destaques para as máscaras, figurinos e todo o acabamento plástico. No todo o espetáculo não convence, tendo como principal motivo a falta de tônus do elenco e talvez algumas dificuldades na adaptação do texto.



Abrindo a Mostra Paralela o Grupo Teatral Acontecendo Por Aí de Itajaí, SC coloca em cena um ótimo texto de José Antônio de Souza chamado Crimes Delicados. Uma comédia inteligentíssima, com pitadas de teatro do absurdo, onde um casal de classe média alta está as voltas com a tentativa de realizar um assassinato. Contar mais da história seria estragar algumas surpresas, mas a inversão de valores contida no texto nos faz refletir sobre a sociedade em que vivemos, ao mesmo tempo que nos divertimos com o humor negro apresentado.

Com uma direção apenas correta de Pepe Sedrez, o espetáculo ganharia mais qualidade se o elenco conseguisse dar mais verossimilidade ao texto, não se prendendo a certas empostações que nos afastam da situação proposta. Nesse sentido, a aparente banalidade utilizada pela empregada (Lenita Novaes) nos aproxima mais do clima de pesadelo e nonsense, ao contrário do que acontece com o casal de patrões (Luciano Estevão e Melize Zanoni). O tratamento plástico é agradável, bem realizado e coerente com a concepção dada a montagem.



E, por falar em aparente banalidade, chegamos ao terceiro espetáculo de nossa maratona: A Sobrancelha É o Bigode do Olho – Uma Conferência do Barão de Itararé, espetáculo solo de Marcio Vito, dirigido por Nelson Xavier e produzido pela KL Produções e Promoções Artísticas, da cidade do Rio de Janeiro.

Numa situação aparentemente não-teatral, o Barão de Itararé nos presenteia com uma conferência sobre o otimismo, passando por outras inúmeras divagações, assuntos diversos e momentos extremamente filosóficos, tudo isso permeado por um humor ácido e crítico, algo bastante desejado quando se assiste à uma comédia. Conduzido de maneira seguríssima, o espetáculo faz com que o público aceite um outro ritmo muito distinto do qual estamos acostumados a vivenciar neste século. Cria uma suspensão no tempo. Raramente 60 minutos passam tão rapidamente dentro de um teatro. O espetáculo, ao mesmo tempo que entretém, questiona. E não seria a função do Teatro?

Um comentário:

Anônimo disse...

Sara Kane, você viu os mesmos espetáculos que eu vi. Com os mesmos olhos. Há tempos não me deparo com texto tão verdadeiro, claro e perceptivo. Sara Kane, eu gosto de você.

Augusta Cantagallo, Itajaí, SC