sexta-feira, abril 06, 2007

Tudo ao Mesmo Tempo Agora!



Não sou uma especialista em dança contemporânea. É bom podermos partir deste princípio. Mas, tive algum tipo de formação na área, o que faz com que, pelo menos, tente perceber em alguns espetáculos seus princípios. Quando o espetáculo tem uma ligação maior com o teatro ou a dança-teatro, ou ainda quando tem uma dramaturgia mesmo que fragmentada, auxilia minha percepção. Quando isso não é aparente, confesso que tenho mais dificuldade em me conectar com ele.

Fui assistir Movimento para 6 no CEART, nesta semana. Um espetáculo de dança contemporânea com concepção e direção de Zilá Muniz em colaboração com seis criadores-intérpretes (Elisa Schmidt, Egon Seidler, Letícia Martins, Paula Bittencourt, Karina Degregório e Vicente Mahfuz). Desde o início do espetáculo se percebe a garra e a dedicação do elenco, assim como percebe-se também a clareza com que a diretora organiza o material recolhido nas improvisações dos intérpretes. Não é um trabalho simples o que o grupo propõe, mas existe empenho para realizá-lo.

Segundo o release do grupo, o espetáculo tem uma dramaturgia que se desenvolve a partir de "cenas que se desenrolam como um passeio através de paisagens construídas por estados corporais, traduzindo imagens corpóreas que traçam pontualmente momentos precisos de vida que se entrelaçam, recombinando a heterogeneidade, num fluxo contínuo de impulsos, correntes e contatos."

Confesso que tive um pouco de dificuldade para perceber as diferenças entre essas imagens corpóreas nos interpretes. Consigo perceber onde, teóricamente, estão as mudanças das cenas, pois estas estão bem sinalizadas principalmente pela sonoplastia e em alguns momentos pela iluminação. O espetáculo explora, principalmente no início e em alguns momentos de maneira bastante vigorosa, um jogo de tonalidades na iluminação (de Camila Ribeiro), criando distintos climas e nos levando a realizar leituras bastante subjetivas. Partimos de um vermelho intenso, passando por tonalidades de azul, verde e até a projeção em sombra das folhas de uma árvore. Um dos momentos plásticos mais bonitos do espetáculo. Quanto mais se aproxima do final, a iluminação começa a dar sinais de que algo não está totalmente claro na dramaturgia.

Um outro ponto que merece ser observado é que, mesmo com a garra dos intérpretes, é visível a juventude técnica do elenco. Essa falta fica ainda mais clara quando eles adentram o terreno coreográfico propriamente dito, ou seja, quando tem uma tarefa com o que estamos acostumados a chamar de dança. Por mais que se tenha respeitado as individualidades e a heterogeneidade do elenco, sente-se uma falta de apuro nos tempos e nas finalizações dos movimentos.

No conjunto fiquei com a sensação de que se estabele uma certa linearidade, tanto na energia dos intérpretes quando no discurso do espetáculo. Depois dos primeiros 20 minutos, tem-se a sensação de que veremos mais do mesmo. Em alguns momentos uma grande catárse do elenco, um tudo ao mesmo tempo agora que não me dá chaves para adentrar e participar do prazeroso jogo dos intérpretes.

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