quinta-feira, abril 12, 2007

Mãos à Obra! Muitos espetáculos para ver!

Dia de muito trabalho no Festival Isnard Azevedo. Hoje assisti a cinco espetáculos. Além dos que comumente assisto (Rua, Paralela e Oficial), assisti a dois espetáculos da mostra Cena Aberta, que realizam apresentações gratuitas em diversos pontos da cidade.


Comecei o dia com Amor por Anexins do grupo Cirquinho do Revirado, de Criciúma, SC. Realizado em arena, com o casal protagonista (Yonara Marques e Reveraldo Joaquim) em pernas-de-pau, o grupo se sai muito bem com o texto extremamente esquemático de Arthur Azevedo. Uma produção esmerada que se apoia no carisma do elenco para contar a história de um velho solteirão, viciado em anexins (ditos populares) que é loucamente apaixonado por uma mulher gananciosa. Um belo momento do espetáculo é a "ode ao dinheiro", onde percebemos que o vale tudo pelo capital não é uma coisa tão nova assim na história do país.

Logo em seguida corro para a praça XV onde vem chegando de Canoas, RS mais um espetáculo de rua, com o grupo De Pernas Pro’ar. Desta vez, na verdade, O Lançador de Foguetes está mais para uma intervenção do que própriamente espetáculo. Um cibernético personagem interpretado pelo ator e diretor Luciano Wieser chega com um triciclo sonoro e realiza números circenses buscando a interatividade com o público. Uma boa idéia e nada mais.


Na mostra de Rua, também do Rio Grande do Sul, só que desta vez de Porto Alegre, apresenta-se A Mulher que Comeu o Mundo da Usina de Trabalho do Ator. O espetáculo gira em torno de uma mulher que come tudo que lhe aparece pela frente, desde pãezinhos até objetos, pessoas, marido, platéia e a si mesma. Metáfora de uma compulsão pelo consumo, de uma ambição desmedida, da falta de limites experimentada nos dias de hoje, o espetáculo serve para várias reflexões. Como ponto alto os figurinos criativos (Chico Machado), o trabalho musical/vocal (Flávio Oliveira / Marlene Goidanich) e o bom uso das máscaras pelo elenco (Celina Alcântara, Ciça Reckziegel, Dedy Ricardo, Gilberto Icle, Gisela Habeyche e Thiago Pirajira) dirigidos por Gilberto Icle. O único senão vai para a dramaturgia, que poderia ser mais precisa e um pouco menos hermética.


Na Mostra Paralela chego ao meu quarto espetáculo do dia: Santa, do grupo Formas Humanas Animadas, daqui de Florianópolis. Uma criação de Gilbas Piva (texto, direção, cenografia, iluminação e figurino) com atuação de Milena Moraes, que também nasceu como um trabalho para a universidade e ganhou corpo de espetáculo, independente de sua origem. O espetáculo tem um bom acabamento e produção. Sua dramaturgia é bem realizada, clara (sem ser óbvia) e propondo mergulhos numa cena não necessariamente realista. A história contada é de uma mulher de trinta anos metódica, infeliz e virgem até o dia que recebe uma visita inesperada que a faz mudar sua visão do mundo. De uma mulher fria e insensível à um poço de amor e tesão, mudança essa claramente marcada pela iluminação do espetáculo. Como um grande senão no espetáculo está a direção da atriz. Acredito que, por ser um trabalho que está iniciando, diretor e atriz ainda não conseguiram fazer com que seu potencial apareça no todo. Neste momento o trabalho de atuação ainda se mostra um pouco esquemático e formal, com alguns vícios já vistos em outros trabalhos seus. Uma busca de aprofundamento se faz necessária para que o texto possa aparecer com toda a sua potência no palco.


E, por fim, chegamos ao CIC para mais uma apresentação da mostra oficial. In Conserto do Grupo Teatro de Anônimo, do Rio de Janeiro. Devo confessar que fui assistir ao espetáculo com uma certa expectativa. Creio que eu não fui a única, afinal o grupo é reconhecido nacionalmente e internacionalmente. Eu já havia visto, há muito tempo atrás, os espetáculos Roda Saia Gira Vida, O Pregoeiro e gostei muito do que ví. Pode, desta forma, parecer injusto da minha parte, ficar comparando trabalhos do próprio grupo, mas é inevitável. Nos trabalhos anteriores o grupo (principalmente no solo de Márcio Libar), na minha opinião, conseguia evitar o mero "manter a tradição circense". Conseguia unir várias gags clássicas e resignificá-las a favor de um novo trabalho que respirava contemporâneidade. Assim, cenas que já estamos cansados de ver se tornam vivas novamente, voltam a fazer sentido a cada noite ou apresentação. No caso do espetáculo de ontem, ficamos com a sensação de ter visto um pouco de "mais do mesmo". O elenco (João Carlos Artigos, Márcio Libar e Shirley Britto) tem qualidade? Óbvio que sim. Então, onde está o problema? Acredito que o maior problema do espetáculo está na sua direção, ou na falta dela. Os números criados por Nani Colombaioni e Ricardo Pucetti são ótimos tijolos como matéria-prima , mas falta argamassa para uní-los e construir um espetáculo.
*fotos retiradas do site www.floripateatro.com.br

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