sábado, abril 14, 2007

Vem chegando o Final...

Praticamente todas as mostras do Festival Isnard Azevedo terminaram nesta sexta-feira. Para o sábado ficou o último espetáculo da Mostra de Rua e os espetáculos convidados. Ainda tive tempo de assistir a 03 espetáculos e o projeto 3x1, ou seja, somei 06 trabalhos! Haja cabeça para pensar tanto sobre teatro.



Meu dia começou com o espetáculo solo da Sessão Pipoca Precisa-se de um Mané, da La Cascata Cia. Cômica de São Paulo, SP. E, se você vem acompanhando o que tenho escrito por aqui, já sabe como estou em relação aos clowns e palhaços neste festival. Pois este espetáculo segue a cartilha de todos os outros que se apresentaram por aqui: uma boa produção, uma palhaço razoavelmente bem preparado (o ator Marcio Douglas, que também dirige o espetáculo) e a repetição de algumas gags já bastante conhecidas pelo público.

Esta situação me lembra o que aconteceu com os espetáculos folclóricos há bem pouco tempo atrás: a saturação e repetição da forma foi tanta que algumas pessoas quando sabem do que se trata fazem questão de passar longe do teatro. E tudo isso feito com a desculpa de se "manter a tradição", quando na verdade o que acontecia era um empobrecimento de um trabalho rico, que deveria estar se relacionando com o mundo de hoje e recriando-se continuamente.

Mas, voltando ao espetáculo, este também sofre com uma certa simplificação na dramaturgia. Estamos acostumados com um fio de história para dar lugar às gags, mas os fios parecem estar ficando cada vez mais curtos. Como a história não é muito enriquecedora, acaba-se por alongar os tempos, deixando o espetáculo um pouco arrastado.


Encerrando a Mostra Paralela tivemos Nem Mesmo a Chuva Tem as Mãos Tão Pequenas, com o grupo de Florianópolis Persona Cia de Teatro.

O espetáculo, criado a partir do texto semi-auto-biográfico The Glass Menagerie, escrito em 1944 por Tenessee Williams, trata de uma família em profunda crise de relacionamento. O pai se foi, deixando mulher e um casal de filhos sós, causando um processo de desintegração pessoal.

Os textos de Williams são famosos pela maneira como transmitia uma vivida tensão sexual e violência reprimida, tratando seus personagens com ironia e compaixão. Dentre a longa lista de textos escritos por ele destaca-se também Um Bonde Chamado Desejo, que ganhou versão cinematográfica.

A montagem florianopolitana é fiel aos preceitos do original, principalmente no que diz respeito ao tratamento dado aos personagens. A direção (de Jefferson Bittencourt) acerta em escolher uma encenação não-naturalista para a obra (o que seria completamente desnecessário) mas apoia-se sobre uma interpretação realista dos personagens (ou, pelo menos algo muito próximo disto). A personagem da filha recebe um tratamento de muita compaixão (tanto do ator quanto do diretor) e a atriz Gláucia Grigolo mantém um trabalho sob medida e com carisma suficiente para dar suporte a ela. Higor Lima me pareceu mais confortável na temporada de estréia, dando lugar a um certo formalismo nessa ultima apresentação. E particularmente, eu discordo do tratamento dado aos personagens por Malcon Bauer e Melissa Pretto. Acho que a mãe peca ao não ser mais sutil, criando uma personagem muito caricata. E o irmão poderia deixar de ser uma figura meio retorcida, investindo mais no que acontece entre as ações e não no resultado delas na cena. No todo o espetáculo funciona.



Na Mostra Oficial fizemos uma viajem ao universo caipira com o espetáculo Flor do Beco com o grupo Teatro do Inconsciente, de Brasília, DF.

Com um trabalho extremamente poético, tanto na forma quanto no conteúdo, o grupo faz uma releitura da obra de Cora Coralina e Monteiro Lobato. A direção (de Marcelo Alves e Débora Aquino) acerta nas escolhas formais, criando um espetáculo de grande beleza visual, sem trejeitos folclorísticos e criando uma suspensão no ritmo urbano ao qual estamos acostumados.

A história fala de três gerações de uma família de mulheres, seu modo de viver e de se relacionar com o mundo. O elenco (Daniela Vasconcelos, Giselle Ziviank, Leila Raquel e Letícia Abadia) é extremamente afinado, criando momentos vocais belíssimos, mas alguns momentos revelam-se por demais formais, tirando um pouco a força da encenação. Acredito que o espetáculo se sairia muito melhor num espaço menor e mais adequado do que o imenso Teatro Ademir Rosa. Vale ressaltar o trabalho da iluminação (de Moisés Vasconcellos) e os figurinos, simples e criativos (de Tatiana Tiburcio e Andréia Alfaia).

E, minha noite teria acabado aí, como normalmente acontece, se eu não tivesse esticado até ao CEART /UDESC para assistir ao Projeto 3X1. São três espetáculos curtos criados por alunos de artes cênicas e unidos num programa de uma hora. Os trabalhos revelam-se ainda muito embrionários, mas é possível perceber que quando os alunos tem um texto mais consistente (no caso: Palavras, palavras, palavras de David Ives) tem mais chance de dar uma forma que já poderia começar a ser mostrada ao público.


Nenhum comentário: