

Este blog foi criado como um espaço de reflexão sobre o fazer teatral. Para pensar sobre os espetáculos de artes cênicas vistos por esta que vos escreve, sem nenhuma metodologia de escolha ou análise... por sorte ou azar. Contém a descrição de minhas sensações em relação ao que tive acesso. São pequenas resenhas, que contém opiniões pessoais!!!!! Sem impor verdades! Está aberto à questionamentos e críticas. Será um prazer dividí-lo com vocês.
A publicidade utilizada na promoção de um espetáculo (seja ele filme, teatro, dança ou circo, entre outros) pode definir seu sucesso ou seu fracasso. Mas, nossa tarefa como artistas, público e, principalmente, pais é tentar ver além do que dos oferecem e tentar encontrar opções que contribuam para a formação das nossas crianças, muito além do puro entretenimento. Não estou defendendo, de maneira nenhuma, o teatro pedagógico ou didático. Estou tentando entender o espetáculo O Mágico de Oz que assisti, com minha filha, este final de semana no Teatro do CIC.
Quando intitulamos um espetáculo de "remontagem brasileira o musical da Broadway", damos uma idéia muito clara do que pretendemos mostrar aos espectadores. Quando as principais armas da divulgação são os "efeitos visuais deslumbrantes" e a quantidade dos atores e dos equipamentos envolvidos, nos comprometemos com estas palavras de oferecer um ESPETÁCULO para o público. Não foi isso que aconteceu! Eu nunca fui a Broadway para assistir à nenhum dos espetáculos montados lá, mas pude ver algumas montagens da CIE - Brasil de musicais consagrados que fizeram temporada no Brasil. A qualidade da produção vista neste espetáculo não chega perto das produções de Chicago e O Fantasma da Ópera, como exemplo de outras transposições.
Mas, o que mais me amedronta nesta produção vista em Florianópolis, é a sucessão de equívocos relacionados ao fazer teatral para crianças. As falas infantilizadas, o visual colorido e brilhante (em excesso, na verdade), a falta de preparação do elenco, as posturas ilustrativas e super atuadas enchem o espetáculo de tédio. Até o momento "onde está?", "não estou vendo" que incita as crianças a gritarem para os atores estava presente.
A história escrita nos muitos livros de L. Frank Baum que fala de uma menina que precisa perder tudo que tem em sua vida para aprender a dar valores às coisas simples está totalmente deturpada. A versão do texto utilizada nesta montagem, que parece ter se baseado no filme e não nos livros originais, parece existir somente para poder encaixar as músicas, estas sim, bem escritas e adaptadas por Cláudio Botelho. O espetáculo perde completamente a lógica e parece ser obrigatório conhecer o filme para poder entender o que se passa.
Tal produção só reforça a crença de alguns que vêm fazendo um trabalho bastante parecido com esse nos últimos anos, menor apenas em escala e grandiosidade inócua. Enquanto isso vários trabalhos com grandes qualidades artísticas, pedagógicas e que não menosprezam a inteligência das crianças não conseguem ser vistos por esta quantidade de crianças. Porque será que os produtores da cidade não se unem aos artistas competentes? Tenho certeza de que as pobres crianças de FlorianOzpolis adorariam!
Assim como a minha escrita pode melhorar (e muito!), também podem os espetáculos produzidos em Florianópolis e Santa Catarina evoluírem em muitos sentidos. Podem e devem deixar de ser permissivos com seu processo e sua construção. Podem e devem ser revistos após sua estréia. Não porque "Eu" disse isso, mas porque é o caminho natural do encontro com o público. O espetáculo só é realmente testado quando encontra a resposta do público. Só encontra seu sentido quando é realizado perante seus espectadores à cada apresentação. E nem todos os espectadores vão gostar completamente do seu espetáculo! Assim como nem todas as pessoas gostam do que eu escrevo.
Num mundo tão marcado pela violência e pela falta de sentido, não seriam os artistas os que primeiro deveriam tentar encontrar uma resposta para o que está acontecendo? Não seriam os artistas os primeiros a tentar deixar de ser intransigentes e buscar o diálogo sobre todas as coisas? Qual o papel do artista, afinal? Ficar se debatendo por picuinhas e "anônimatos" eu tenho certeza que não é!